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O dependente químico e um programa de honestidade
Publicado em: 27 de abril de 2020

Atualizado em: 24 de fevereiro de 2022

O dependente químico e um programa de honestidade

Para que a recuperação seja autêntica, o dependente químico em recuperação terá em dada altura que dedicar a vida a alcançar a honestidade, que é o oposto da dependência química.

A honestidade tem de ser a espinha dorsal do programa de recuperação da pessoa. Para recuperar, tem de se admitir a existência de um problema e, em seguida, ser honesto a respeito da necessidade de ajuda. A honestidade é o começo da recuperação e é também o combustível que mantém a recuperação em funcionamento.

Negação e desonestidade

Os dependentes químicos ainda em uso receiam a honestidade. Os dependentes químicos em recuperação podem nem sempre gostar da honestidade, mas aceitam as críticas honestas e aprendem a transformar as suas fraquezas em força.

A honestidade é especialmente importante para os dependentes químicos porque contraria o processo doentio da dependência química. 

Na dependência química, a negação e a desonestidade fazem com que as pessoas se tornem mais distantes de si próprias e dos outros. 

Na realidade, a desonestidade causa isolamento; acontece com muita frequência que apenas o dependente químico sabe que está sendo desonesto e que se sente forçado a voltar-se para o seu interior e a afastar-se dos outros.

A honestidade diz respeito à nossa ligação conosco e com os outros; permite-nos ter relações íntimas. A honestidade nem sempre garante a intimidade, mas permite que uma relação se torne mais profunda.

A honestidade em relação à própria pessoa e aos outros tem de incluir compreensão e compaixão. A honestidade não pode permitir a crueldade, a honestidade e a vingança não têm nada em comum.

A honestidade passa-se no interior; pode por isso ser dirigida para o exterior. A honestidade não se destina a encontrar alguém a quem se possa atirar culpas, embora nos sistemas doentios seja muitas vezes encarada desta forma. A honestidade diz sobretudo respeito à forma como se encara o mundo e à partilha disso com os outros. Desta forma, a honestidade refere-se ao modo como nós, como indivíduos, somos diferentes uns dos outros. 

O que é honesto para mim pode ser, e muito provavelmente é, diferente do que é honesto para você. Acontece isto porque todos nós temos antecedentes e perspectivas diferentes. Portanto, a honestidade é na verdade a fiscalização que a pessoa exerce sobre si própria, a que se segue o compartilhar da pessoa com os outros. 

Se estivermos tentando ser honestos dedicaremos pouco tempo, se é que algum, a tentar descobrir se os outros estão sendo honesto, o que na maior parte dos casos é uma perda de tempo. Se alguém for geralmente uma pessoa desonesta, isso acabará por se revelar; a desonestidade, tal como a honestidade, é um estilo de vida.

Um estilo de vida verdadeiramente desonesto cria discrepâncias, e à medida que a desonestidade avança essas discrepâncias tornar-se-ão óbvias, até que se tornarão públicas. É o que sucede na dependência química.

As pessoas honestas esforçam-se por serem abertas e autênticas. Orgulham-se de si mesmas de uma forma muito genuína. Querem conhecer-se melhor de forma a poderem progredir.

Veja também

Honestidade e Recuperação

Os dependentes químicos em recuperação precisam adaptar o conceito de honestidade porque este lhes permite continuarem a recuperação.

Se forem honestos, os dependentes químicos em recuperação poderão procurar ajuda quando quiserem usar drogas; se forem honestas, as pessoas em recuperação tomarão consciência dos seus problemas suficientemente a tempo de poderem fazer qualquer coisa a seu respeito e antes que eles se transformem em desculpas para usar.

A honestidade é franca. Verificamos isto quando as pessoas se apresentam em muitos dos grupos de auto ajuda. “Olá, chamo-me ______ e sou um dependente químico”. Este tipo de honestidade representa um ponto de partida. A pessoa retrata a si própria sem qualquer espécie de fraude ou vergonha. A honestidade não faz juízos nem lança culpas.

“Vejo as coisas desta maneira”, ou “Creio que as coisas se passam desta forma.” A honestidade é um ato em que se partilha as nossas convicções e ideias com os outros ou conosco sem que se emita um juízo sobre elas. O bom ou o mau da questão é deixado de fora.

A honestidade corresponde também a um ato de crescimento – muda à medida que nós mudamos. Aquilo que parece verdadeiro hoje pode não ser verdadeiro amanhã.

Ao lutarmos com problemas de honestidade, somos forçados a crescer e a enfrentar as nossas discrepâncias próprias. Ser honesto é não rejeitar as nossas inconsistências pessoais quando as descobrimos. A honestidade é olhar para dentro e, por vezes para fora, a fim de descobrirmos as nossas crenças e os nossos valores.

Para muitos de nós, a honestidade é difícil de aprender porque ao longo da vida nos ensinam certos tipos de desonestidade, especialmente em relação às nossas emoções. “Os rapazes não choram.” “As mulheres não têm raivas.” Isto são dois exemplos de mentiras que aprendemos. Não são verdades – são opiniões. Os outros oferecem-nos frequentemente as suas convicções pessoais e dizem-nos que essas convicções são fatos. 

Muita gente arranja problemas quando tenta convencer os outros a acreditar que as suas opiniões pessoais são fatos. 

É fácil pensarmos que sabemos tudo sobre uma pessoa ou que sabemos o que é melhor para ela. Isto acontece muito facilmente nas relações, mas nem sempre é útil. Se tentarmos convencer as pessoas de que as conhecemos melhor do que elas, a maior parte das vezes o que recebemos em troca é ressentimento.

Na dependência química, as pessoas tornam-se apegadas a um estilo de vida desonesto. Nas primeiras fases da recuperação, as pessoas sentem muitas vezes o impulso de serem desonestas, mas os seus programas de recuperação dizem-lhes para abandonarem velhas crenças e serem honestas e confiarem nas pessoas.

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Conclusão

A honestidade é uma tarefa difícil para a maior parte das pessoas no princípio da recuperação. É como aprender uma língua nova. Uma vez que estejamos familiarizados com a nova linguagem da honestidade, começa a tornar-se divertido e excitante e começamos a achá-la normal.

Nos primeiros estágios da recuperação, muitas pessoas pensam que a honestidade significa contar tudo a todo mundo, mas a honestidade não é contarmos a história da nossa vida a alguém que acabamos de encontrar no ônibus. A honestidade é seletiva e isso leva tempo a aprender. 

A honestidade é abrirmo-nos com os outros, mas seria incoerente fazermos isso com certas pessoas. Não daríamos a nossa morada a um ladrão, nem lhe daríamos também a morada de qualquer outra pessoa. A honestidade quando é partilhada, com alguém em quem se confia é uma dádiva.

A honestidade é também ver o mundo tal como ele é. Vivemos num mundo que tem tanto de beleza quanto de horror. A honestidade pode motivar-nos a olharmos para as coisas de forma realista. Vendo as coisas tal como elas são algumas pessoas ficam suficientemente desgostadas para tentarem fazer com que elas mudem.

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