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Relações saudáveis e recuperação da dependência química
Publicado em: 04 de maio de 2020

Atualizado em: 11 de março de 2024

Relações saudáveis e recuperação da dependência química

A beleza da recuperação encontra-se nas relações. É através da formação de relações saudáveis que os dependentes químicos são capazes de ultrapassar a sua doença. Nesta altura, desejo reafirmar a definição da dependência química:

  • A dependência química é um amor patológico e uma relação de confiança com um objeto ou um acontecimento. (link para texto encaminhado anteriormente)

Os dependentes químicos em recuperação precisam se dedicar a aprender como é que podem corresponder às suas necessidades de amor, de confiança e às suas necessidades emocionais através de relações saudáveis com as outras pessoas e com a sua própria espiritualidade.

Para muitas pessoas em recuperação, é nos grupos de auto ajuda que se estabelecem as primeiras relações que as realizam. Muito destes grupos de auto ajuda baseiam-se nos Doze Passos dos Alcoólicos Anônimos. A primeira palavra do “Primeiro Passo” de qualquer destes programas de Doze Passos, por exemplo, “Neuróticos Anônimos, dependentes à comida Anônimos ou Narcóticos Anônimos” é o que eu penso ser o mais importante de tudo: “Nós.”

Ao usar a palavra “Nós”, Os Doze Passos começam a destruir a relação doentia entre o Dependente químico e o Eu e começam a ligar o Eu com os outros. À medida que isto acontece, as pessoas tomam consciência de que as suas necessidades emocionais podem ser satisfeitas através dos outros.

Se a relação doentia entre o Dependente químico e o Eu não for quebrada e substituída por relações saudáveis com os outros, os dependentes químicos voltarão à maior parte das vezes a uma dependência química ou substituirão a dependência química por outra relação doentia e adictiva com um objeto ou acontecimento.

Em recuperação, as pessoas precisam desenvolver relações saudáveis com outros dependentes químicos em recuperação, com o seu lado espiritual, com a família e os amigos e, eventualmente, com a comunidade em que vivem. É através destas relações naturais com: Deus, seu Eu, família e amigos e por fim a sociedade; que as pessoas vêm á conhecer-se e aprendem a satisfazer as suas necessidades emocionais de formas não adictivas. É através dós outros que os dependentes químicos em recuperação desenvolvem a capacidade de se sentir bem e satisfeitos consigo.

No princípio do processo de recuperação, as relações são muitas vezes encaradas como qualquer coisa em que não se deve confiar. No processo da dependência química, os dependentes químicos usam as pessoas como objetos. As capacidades de recuperação que encontram nas relações saudáveis começam a reconfortar os dependentes químicos. É isto que na maioria dos casos os dependentes químicos sempre desejaram: relações reconfortantes.

Quase todas as pessoas anseiam por relações que as confortem e as alimentem, relações que as façam sentir importantes e orgulhosas pelo fato de fazerem parte delas.

Os dependentes químicos acreditam muitas vezes que são incapazes de ter relações que funcionem. Tentaram, mas as suas relações nunca parecem funcionar. As relações não podem funcionar por causa do processo da dependência química. Finalmente, os dependentes químicos acabam por ver a si próprios como incapazes de serem amados por alguém. Ao formarmos relações saudáveis e íntimas, descobrimos a capacidade de amar e sermos amados. É através destas relações que temos a sensação de sermos especiais.

As pessoas começam a reviver ao estabelecerem relações. Os dependentes químicos em recuperação fazem muitas vezes o impossível para ajudar os outros dependentes químicos a se recuperarem. Já tenho visto homens de aspecto forte e rude a apoiarem carinhosamente um frágil membro do seu grupo e a deixar que ele chore no seu ombro, dizendo-lhe que já não tem mais nada a temer porque agora tem amigos.

Através das relações aprendemos a forma de enfrentar os problemas da vida. Grande parte dos principais, problemas na vida são resolvidos no contexto das relações. 

Alguns elementos básicos de uma relação saudável são:

1. Mostrar um comportamento respeitoso em relação à outra pessoa;

2. Sentir-se apoiado pela outra pessoa;

3. Ser aceito por aquilo que se é, e não por aquilo que a outra pessoa gostaria que fôssemos;

4. Preocupar-se em cuidar da humanidade da Outra pessoa

5. Comportamento respeitoso em relação aos outros

Numa relação, tem de se tratar a outra pessoa como sendo importante porque essa pessoa é um ser humano. É preciso nos esforçarmos por criar um sentimento de segurança, e o respeito ajuda a realizar isso. O respeito ajuda a criar confiança numa relação com os outros e conosco. Se as pessoas se tratarem a si mesmas e tratarem os outros respeitosamente, começam a confiar e a acreditar em si próprias.

Para que qualquer relação funcione, é necessário que haja respeito mútuo. Este respeito tem de ser demonstrado tanto em palavras como em ações. Não é suficiente dizer que respeita outra pessoa. Tem que agir de forma respeitosa.

Diz-se de uma pessoa que ela é respeitadora, isso é uma afirmação sobre a forma como a pessoa atua. É uma afirmação a propósito da forma como a pessoa tenta interagir com os outros. Significa honestidade. 

A honestidade baseada no respeito é a forma como concedemos dignidade aos outros e mostra-lhes como estamos sendo honestos em relação a nós. Mas o respeito não tem que ver apenas com ser honesto; diz também respeito à forma como somos –honestos, ser honestos com dignidade em relação aos outros.

Saiba mais sobre o programa de honestidade

Sentir-se apoiado

Dentro de uma relação saudável há apoio ativo à outra pessoa. Cada uma das pessoas se esforça para ajudar o outro a obter aquilo de que necessita e que deseja da vida. 

Desta forma, cada uma das pessoas se encontra envolvida na vida com o outro, fazendo perguntas para saber o que é importante na vida desse outro.

Em muitas relações, fala-se muito de apoio, mas não se dá por ele. Numa relação saudável, a fala é sempre seguida pela ação. As pessoas não se sentem usadas; sentem-se valorizadas e importantes aos olhos dos outros. Por consequência, há pouca desconfiança.

Uma forma muito importante de apoiar uma pessoa numa relação é de mantê-la afastada da nossa maldade. Todos nós temos certa mesquinhez dentro de nós. Nas relações que dão apoio as pessoas não se agridem física ou verbalmente. 

Podemos sentir que estamos nos tornando mesquinhos, mas, numa relação saudável, pomos a relação à frente de qualquer sentimento passageiro do poder que possamos imaginar obter sendo mesquinhos em relação ao outro.

Esforçamo-nos por ter uma relação forte em vez de procurarmos ter poder sobre a outra pessoa. Isto não significa que nas relações saudáveis as pessoas não se zanguem, mas discutem segundo as regras do respeito mútuo. As discussões acabam resolvendo problemas e não criando. 

Na dependência química, os desacordos são uma forma de tentar conseguir o que queremos ou de tentar que o nosso ponto de vista prevaleça, e não uma forma de resolver problemas.

Saiba como funciona o tratamento para dependentes químicos

Ser aceito por aquilo que se é

Numa relação saudável está implícito que é insensato tentar controlar a outra pessoa porque isso leva a distanciamentos e ressentimentos. Tentar controlar outra pessoa cria um gênero de interação do tipo:

“Eu sou melhor do que você.” 

“Como sou melhor, tenho de ter controle sobre você”. 

É este o tipo de lógica que se encontra na dependência química. Este gênero de relações acaba em lutas de poder, em que a pessoa que fala mais alto e que é mais mesquinha com frequência conseguirá ter mais poder. 

Nas relações saudáveis, as diferenças individuais são respeitadas e aplaudidas. As diferenças e as diferentes visões do mundo são consideradas como vantagens e não como desvantagens. Desta forma, as capacidades de cada pessoa são respeitadas e recorre-se a elas quando se torna necessário. As funções de comando dentro da relação alternam quando são precisas diferentes capacidades e competências para resolver as situações com que a relação se confronta.

Numa relação saudável, não se fazem tentativas de moldar a outra pessoa segundo certa imagem que formamos do que é “melhor” para ela. Presume-se que cada pessoa é especialista no que a si mesmo diz respeito e que é impossível haver alguém que a conheça melhor do que ela própria se conhece.

Definir a abstinência em recuperação

Acredito firmemente na abstinência total. Definir a abstinência total é mais fácil em certas dependências do que em outras. É mais fácil, por exemplo, definir o que é abstinência total em adicções tais como as que dizem respeito ao álcool e outras drogas, ou a um acontecimento como o jogo. 

É mais difícil definir o que é abstinência em algumas outras adicções, tais como a dependência química à comida, ao sexo, às compras, ao dinheiro, ou ao trabalho. Não se pode esperar que as pessoas se tornem assexuadas ou deixem de comer. 

Assim, definir a abstinência consistirá em definir os comportamentos e rituais usados no processo de atuar nos sentimentos. 

A pessoa precisa de se comprometer a manter a abstinência em relação a esses comportamentos e rituais. Os dependentes químicos em recuperação têm de ser muito claros e específicos, e completamente honestos consigo mesmos e com os outros, quando decidem o que representa para si o comportamento doentio. Algumas pessoas recaem porque definem a abstinência de forma muito vaga.

• Os dependentes químicos ao sexo podem dizer para com eles que não está certo frequentarem prostitutas, mas continuam a permitir-se ver filmes com um conteúdo sexual muito forte sabendo que isso pode provocar a sua dependência química.

Algumas pessoas elaboram as suas definições de abstinência de forma demasiadamente rígida, como se quisessem castigar-se o que pode ter origem na vergonha. Isto também não resulta. Na realidade, a pessoa acabará com muita frequência por se irritar com essas restrições excessivamente apertadas e revoltar-se contra elas. É por isso que é muito importante estabelecer um contrato de abstinência realista.

Planejar um contrato de abstinência é uma coisa que não se deve fazer sozinho. Faz-se melhor com um conselheiro, um padrinho ou outra pessoa com uma recuperação sólida. Muitas pessoas que estão envolvidas em programas de Doze Passos dão uma grande importância aos padrinhos. A ideia é ter alguém que, num ambiente são, o ajude a descobrir exatamente quais os objetos ou acontecimentos que usou e o conduziram à dependência química e quais os comportamentos que criavam uma alteração do humor.

• Para o alcoólico, a abstinência pode não significar apenas não beber, pode significar também não ir a bares, não viajar sozinho durante certo período e não ir a eventos sociais.

A abstinência significa não apenas evitar o objeto da dependência química da pessoa, mas também definir todos os acontecimentos que aumentaram o processo da dependência química e desenvolver estratégias para que ela se possa proteger desses acontecimentos e comportamentos.

Definir a abstinência é um processo que representa examinar os rituais doentios da pessoa que causam ou aumentam a alteração do humor. Definir estes rituais pode tornar-se um passo perigoso dentro da recuperação por causa do perigo que representa a preocupação. 

Ao debruçar-se muito sobre aquilo que causa excitação no Dependente químico, a pessoa pôde reentrar no processo adictivo. É por isso que é importante para a pessoa estabelecer uma definição com alguém que saiba de dependência química e tenha tempo para acompanhar e ajudar em quaisquer dificuldades que possam surgir.

Uma vez que os dependentes químicos tenham definido o que a abstinência significa para eles, precisam partilhar publicamente essa informação com todos aqueles que escolheram para os ajudar a manter a sua abstinência. 

Ao falarem sobre este assunto com o seu sistema de apoio, o contrato de abstinência das pessoas tornar-se mais claro e mais real para elas. Este contrato de abstinência deveria ser periodicamente reavaliado, especialmente no primeiro ano de recuperação, adicionando-lhe quaisquer comportamentos que possam pôr a recuperação em perigo.

Saiba mais sobre a abstinência no estudo que fizemos

Conclusão

Manter relações saudáveis pode ser algo extremamente difícil, é verdade. Praticar a honestidade, deixar a vergonha de lado, trabalhar a culpa, tudo isso parece absurdo e impossível, mas é existe uma forma, existe um método. 

Os 12 passos nos ensinam isso e profissionais podem nos ajudar. Procure ajuda. 

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