Estamos aqui 24h

é só clicar

São as famílias que torna as pessoas dependentes químicas?
Publicado em: 29 de abril de 2020

Atualizado em: 30 de abril de 2020

São as famílias que torna as pessoas dependentes químicas?

Algo comum que sempre perguntam é: – “São as famílias que tornam as pessoas dependentes químicas?”

O que podemos dizer é “Não temos a certeza.” Acreditamos que as famílias não são a causa da dependência química. Na realidade, a dependência química é multifatorial, e estas são causas biológicas, psicológicas e social onde a família está inserida.

Uma forma de abordar esta questão é estabelecendo uma comparação com a maneira como o ambiente em que se vive e o nível de poluentes que nele se encontram, podem tornar a pessoa mais susceptível a determinadas doenças. 

Se viver numa área cujos níveis de poluição atmosférica são muito altos e for vulnerável a problemas respiratórios (quer eles sejam devidos a uma predisposição genética, quer a quaisquer outras razões), terá muito mais possibilidades de contrair doenças respiratórias. 

Quanto mais tempo viver num ambiente poluído, maior será o risco que corre. 

Encaro a influência da família e da sociedade desta forma. A nossa sociedade tem certas atitudes, valores, crenças e comportamentos que podem empurrar a pessoa com tendências dependente químicas para a dependência química. Passa-se o mesmo com as famílias. 

Há certas atitudes, valores, crenças e comportamentos que certas famílias adotam que empurram os seus membros para a dependência química ou para a Codependência.

As famílias apresentam diferentes níveis destas atitudes, valores, crenças e comportamentos doentios. Correlacionada estes níveis, os membros da família terão uma maior ou menor probabilidade de desenvolver a doença a que chamamos dependência química.

Outro exemplo disto é o fato de, como ambos os meus pais tiveram câncer, os meus irmãos e eu termos uma maior probabilidade de desenvolver câncer ao envelhecermos; o que não significa que o teremos, mas que teremos mais probabilidades que isso aconteça do que uma pessoa que nasceu numa família sem qualquer história de câncer. 

Isto é muito semelhante ao que acontece com as pessoas que cresceram numa família compulsiva e com pessoas portadores da dependência química; tem mais probabilidades de desenvolver uma dependência. É genético ou adquirido? Chega-se à conclusão de que é devido a uma combinação de ambos os fatores. O objetivo deste texto é o de observar os diferentes tipos de famílias e os fatores que nelas se encontram que levam os seus membros a formar relações compulsivas.

O que fazer ao descobrir que meu filho usa drogas?

Ter pais que sofrem de dependência química

Se cresceu numa família em que um dos pais era dependente químico, tem certa probabilidade de desenvolver a dependência química. Se ambos os seus pais eram dependente químicos, essa probabilidade aumenta muitíssimo.

As famílias em que existem pais dependentes têm tendência a produzir, codependentes ou dependente químicos. Os membros de famílias dependente químicas conhecem e vivem em extremos.

• As famílias de alcoólicos terão mais facilmente filhos que bebem abusivamente ou filhos que não bebem de forma alguma.

Poderá ser útil imaginar a família como um círculo. A doença da dependência química aparece e entra no círculo.

O sofrimento da dependência química começa a fazer com que as pessoas se separem umas das outras. Esta fratura criará eventualmente dependentes químicos ou codependentes à medida que os membros da família desenvolvem diferentes formas de enfrentar a dependência.

Os membros da família são forçados a desenvolver certos meios de lidar com esta intromissão. O dependente químico e o codependente desenvolvem padrões internos para lidarem com a situação que, aparentemente, parecem opostas, mas que, na realidade, são muito semelhantes. 

Ambos se tornaram dependentes de uma ilusão. Os dependentes químicos ficam dependentes da ilusão de que podem escapar ao sofrimento da família através da droga ou de um acontecimento compulsivo; os codependentes acreditam na ilusão de que podem parar o sofrimento se conseguirem que o dependente químico deixe de usar drogas.

Há também o perigo de que cada um dos lados se torne dependente do outro. Quando os filhos destas famílias estiverem prontos a fundar as suas próprias famílias, têm tendência a procurar a sua contrapartida.

• Um codependente irá se casar com um dependente químico;

• Um dependente químico que se casa com um codependente.

Assim se forma o ciclo da dependência química nas gerações. Os membros da família aprenderam a linguagem da dependência química; na altura de formarem relações fora da família, procuram pessoas que falem a mesma língua. 

Esta procura seletiva não se dá a um nível consciente – tem lugar a um nível muito mais profundo, o nível emocional. 

Certos pacientes frustrados perguntam, “Porque é que eu continuo a me ligar aos dependentes químicos?” A resposta que acreditamos é, “Porque falam a mesma língua.”

Ao crescer numa família compulsiva com dependência química instalada, uma pessoa observa e aprende em primeira mão comportamentos compulsivos e a lógica da dependência. É esta a linguagem que lhe ensinam; na família, a aprendizagem se faz ao observarmos e interagirmos com os membros da família.

Se os seus pais forem dependentes químicos, estarão te ensinando os valores e a lógica adictivos ao mesmo tempo em que a sua relação com eles se processa. Não lhe podem ensinar outra coisa.

Os dependentes químicos ensinam a dependência química. Podem falar-lhe de outras coisas, mas as suas ações ensinam-lhe a dependência química.

Os pais dependentes químicos estão constantemente mudando de atitude dentro da família. Em dado momento podem ser pais extremamente carinhosos e atentos e, no minuto seguinte, atuarem como crianças irresponsáveis. 

Numa família dependente química, a criança especialmente quando é pequena, acompanha a mudança do pai ou da mãe, numa tentativa de ficar ligada a ele ou a ela. 

Por isso, numa família dependente química, a criança comporta-se em determinado momento como criança e, no momento seguinte, a mesma criança pode estar agindo como um pai ou uma mãe responsável. Crescer dentro de um sistema doentio cria muito sofrimento psíquico devido a estas constantes mudanças.

Precisa de ajuda? Converse com a nossa equipe.

Família com instabilidade emocional

Outra alteração importante que ocorre dentro da família é o nível emocional. De manhã tudo parece maravilhoso, mas, ao cair da noite, uma nuvem de desespero cobre a casa. Ou, pode haver ocasiões em que existe amor a mais? De uma forma que quase sufoca os membros da família, como se os pais estivessem que tentar compensar o horrível comportamento da noite anterior. 

Estas mudanças constantes e a falta de estabilidade, em nível de comportamento, ou a nível emocional, fazem com que os membros da família se sintam perdidos e inseguros.

As crianças de famílias dependentes químicas perguntam frequentemente a si próprias em que ponto estão em comparação com as outras. Crescem desejando sempre uma família normal. 

Sentem-se diferentes e sentem dúvidas sobre si, confusão, e uma grande necessidade de saber o que é normal. 

São estas dúvidas, esta confusão e falta de consistência que, contribuem para levar os filhos dos dependentes químicos a criar as suas próprias relações dependente químicas. Poderão tornar-se dependente químicos a drogas ou comportamentos diferentes daqueles que os seus pais eram dependentes químicos porque farão tudo para não se parecerem com eles. 

• O filho de um alcoólico poderá não beber, mas em vez disso criar uma dependência à comida.

A consistência ajuda as pessoas a se sentirem seguras; as crianças necessitam, portanto, de uma base emocional consistente a partir da qual possam se desenvolver. 

A inconsistência numa família dependente química faz com que os seus membros sintam incerteza e insegurança a seu próprio respeito. As crianças sentem-se inseguras em relação a si mesmas e ao mundo que as rodeia, pois não sabem quando é que os ventos da emoção podem mudar e o amor e carinho do momento presente irão ser substituídos por rebaixamentos e insultos. Isto cria um sentimento de pavor dentro delas. 

Temos diversos casos de adultos que vêm de famílias que sofrem de dependência química. Falam de um sentimento de condenação que parece acompanhá-los constantemente. Este sentimento interior piora quando tudo está bem, mas eles têm a certeza de que algo de mal irá acontecer.

• A pessoa pensa que sua relação com outra pessoa vai terminar mesmo quando não existe qualquer razão que justifique essa ideia;

• A pessoa tem certeza de que vai ser despedida do emprego embora tenha sido promovida apenas há dois meses.

Estes sentimentos fatalistas vêm de viver numa família em crise, que é exatamente uma família dependente química. O sentimento de fatalidade vem de uma época que era uma realidade. As épocas boas numa família dependente química não são de confiar. São seguidas por crises e por perigo para as pessoas a nível emocional. Os membros da família estão em perigo até a dependência química ser tratada e suspensa.

Os membros das famílias que sofrem de dependência química procuram distrações ou formas de ficarem anestesiados em relação aos problemas, tentam ficar como mortos. É nesta ocasião, que podem dar começo à sua própria viagem a viagem da dependência química.

• A mãe e o pai estão discutindo sobre a velha disputa das dívidas causadas pelo jogo. Você desejava que ela terminasse, mas não pode fazer com que eles parem e, por isso, corre para a televisão, liga-a, e entretém-se como pode. Ou foge para o seu quarto e imagina e promete a si mesmo que, quando for mais velho, vai ser rico de forma que ninguém o possa magoar. Você começou a compartilhar os procedimentos dos seus pais. Tal como eles, está tentando entorpecer o seu sofrimento ou está perseguindo uma fantasia tentando que o sofrimento pare.

Juntamente com estas inconsistências mais importantes, a pessoa que cresce numa família que sofre de dependência química aprende um tipo de lógica insensata – a lógica da dependência química.

• É obrigado a ouvir enquanto os membros da família tentam encontrar justificativas para o seu comportamento como se não fosse nada. Por dentro, ficam loucos ao assistir aos seus pais destruindo a si próprios. Diz para si que é uma loucura, mas depois olha à sua volta e vê outros membros da família agindo como se o que se passa não tivesse grande importância.

Os membros da família vão-se abaixo sucessivamente, enquanto outros nem sequer podem dar a esse luxo. Interior e exteriormente, as pessoas põem em questão os comportamentos insensatos do dependente químico e de outros membros da família. 

São confrontadas com o que passa para o exterior como aparentemente razoável, mas que é na realidade uma completa mentira.

• Aí está você, num ambiente de insanidade e, ainda para mais, sendo ensinado a mentir e a dizer que um problema não existe. Mentir é negar abertamente a realidade. Você pergunta, “Porque é que o pai está cheio de raiva e a berrar conosco?” Dizem-lhe, “O pai apenas teve um dia mal no emprego.” A verdade é que o pai está bêbedo. 

Dentro de pouco tempo, certos amigos podem dizer-lhe, “Deve ser difícil para você quando o seu pai fica assim.” Você faz o possível para que as preocupações deles diminuam contando-lhes até que ponto o seu pai detesta o emprego que tem e como tudo se tornaria normal se ele arranjasse um trabalho diferente.

Nas famílias que sofrem de dependência química, tal como em quase todas as famílias, as crianças aprendem a não trair a família. Mas as famílias dependentes químicas põem grande ênfase nisto. 

Transmitem muitas mensagens sobre a importância da família e sobre a existência de segredos que todas as famílias têm e que não devem ser contados aos outros. As famílias com adicções têm de ensinar os seus membros a mentir, pois isso faz parte da dependência química.

• Ao ser ensinado a mentir, você põe-se contra si próprio. O seu lado saudável sabe que isso é uma loucura, mas como sinal de que pertence à família e da sua lealdade para com ela diz que não é tão mau como parece.

A fim de sobreviverem dentro de um sistema adictivo, as crianças aprendem a negar as reações saudáveis que as avisam que correm perigo; têm de continuar a aumentar essas habilidades, desonestas que lhes permitem aguentar a situação visto a insanidade e a doença continuarem a progredir.

Nós ligamos para você