Atualmente, a cannabis, popularmente conhecida como maconha, é a substância ilícita mais consumida em todo o mundo. Estima-se que aproximadamente 160 milhões de pessoas ou cerca de 4 por cento da população do mundo, entre as idades de 15 e 64 anos, fazem uso de cannabis pelo menos uma vez ao ano.
Dessa forma, com registros de uso que remontam a milhares de anos, a cannabis possui a capacidade de induzir uma variedade de efeitos psicoativos, como sentimentos de euforia, relaxamento profundo, entre outros. Além disso, em diversos países, a cannabis tem sido legalizada para fins medicinais ou recreativos, aumentando assim o seu uso e relevância contemporânea.
Logo, surge a pergunta: como será que essa droga afeta nossa mente? Estudos recentes têm se dedicado a essa questão, revelando verdades importantes sobre o impacto da maconha no cérebro e em processos cognitivos e psicológicos. Este texto pretende explorar essas pesquisas e aprofundar o entendimento sobre os efeitos da maconha na mente humana e sua relação e efeitos na esquizofrenia.
O que é esquizofrenia?

Conceito do transtorno psicótico
Embora seja um transtorno psicótico muito conhecido, a definição precisa da esquizofrenia é fruto até hoje de intensas discussões nas várias ciências que estudam o tema. No entanto, trata-se de um transtorno mental marcado pela perda de contato com a realidade, com alucinações, pensamentos e comportamentos desorganizados, além de prejuízos na função mental.
Logo, os sintomas incluem alucinações, delírio, pensamento desorganizado, embotamento afetivo e dificuldades na função social. Essas condições podem impactar significativamente a vida diária e as relações interpessoais.
Identificando a esquizofrenia
Inicialmente, a esquizofrenia tem prevalência mundial de cerca de 1% e ocorre na mesma proporção em homens e mulheres. No entanto, as mulheres possuem um melhor funcionamento social antes do desenvolvimento da doença, e possuem melhor prognóstico, enquanto os homens são mais propensos a ter sintomas negativos.
Nesse sentido, é desafiador identificar o início da esquizofrenia devido à falta de compreensão dos sintomas, o que pode resultar em atrasos significativos no acesso ao tratamento por vários anos. Em média, os sinais da doença começam por volta dos 20 a 25 anos em homens e um pouco mais tarde em mulheres.
A deterioração do funcionamento social pode levar a problemas adicionais, como o abuso de substâncias, incluindo o uso de maconha, bem como a situações de pobreza e até mesmo o desabrigamento. Nesse sentido, pessoas com esquizofrenia não tratada podem se distanciar de seus familiares e amigos, às vezes chegando a viver nas ruas de grandes cidades.
Uma questão bem procurada a respeito da esquizofrenia é sobre ela ser ou não uma paranoia, se tem alguma ligação e suas diferenças. De fato são duas condições diferentes, a paranoia se identifica como um medo injustificável, relutância em confiar nos outros, interpretações errôneas das observações e até mesmo delírios. Enquanto a esquizofrenia se apresenta com as características já citadas anteriormente.
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O Consumo de maconha e sua relação com a esquizofrenia
Há uma relação em estudo entre a esquizofrenia e o uso de maconha. Pesquisas apontam uma alta frequência de consumo de maconha entre pessoas com esquizofrenia, sugerindo assim uma conexão entre as duas condições. Acredita-se que o uso de maconha pode aumentar o risco de desenvolvimento de transtornos psicóticos em indivíduos vulneráveis.
O consumo de maconha entre pacientes com esquizofrenia é prevalente na Europa e nos Estados Unidos, levantando a questão de uma possível relação entre o uso da cannabis e o desenvolvimento de transtornos psicóticos. Um estudo recente conduzido por Cahn et al. investigou essa questão examinando os volumes de diferentes estruturas cerebrais em pacientes no primeiro episódio de esquizofrenia que também eram usuários de maconha.
Um estudo recente investigou as diferenças no volume cerebral em pacientes no início da esquizofrenia, comparando aqueles com e sem histórico de abuso ou dependência de maconha. Os resultados não mostraram diferenças significativas de volume cerebral entre os dois grupos. No entanto, os pacientes que nunca haviam consumido maconha apresentaram um aumento no tamanho de uma estrutura cerebral chamada ventrículo lateral esquerdo em comparação com o direito, enquanto essa diferença não foi observada nos que faziam uso da droga. Isso sugere que o uso de cannabis pode ter um efeito surpreendente na simetria cerebral, ou seja, no funcionamento dos dois lados do cérebro.
Os efeitos da maconha na cognição e psicologia

Atualmente, a maconha figura entre as drogas mais usadas. Embora provoque relaxamento e euforia, ela também afeta a cognição, como indicam estudos recentes em revistas científicas especializadas. Por exemplo, temos o The Journal of Psychopharmacology, Neuropsychopharmacology e International Journal of Neuropsychopharmacology.
É crucial destacar que a maconha é uma substância ilícita amplamente consumida, seja por motivos recreativos ou médicos. No entanto, apesar de sua popularidade, poucos estudos têm explorado as possíveis consequências neurotóxicas a longo prazo do uso da cannabis. Graças ao uso de técnicas de neuroimagem, os cientistas têm começado a investigar os impactos da maconha no cérebro humano, permitindo a análise de mudanças na anatomia e na função cerebral.
O debate sobre os efeitos da maconha no cérebro humano está se intensificando, com muitas preocupações sobre possíveis prejuízos cognitivos e transtornos psiquiátricos persistentes, dadas as altas taxas de uso da maconha e a carência de informações sólidas sobre seus efeitos a longo prazo. É notável que existem menos pesquisas disponíveis sobre a maconha em comparação com outras substâncias de abuso, como o álcool.
O que se têm de estudos conclusivos no momento é que o uso da cannabis acarreta um comprometimento agudo da memória e do aprendizado, ou seja, da habilidade cerebral em reter informações – que denomina-se capacidade cognitiva, mas não é tão evidente que seja um comprometimento neuropsicológico duradouro. Ou seja, embora a maconha seja amplamente utilizada e debatida, ainda há muitos aspectos desconhecidos sobre seus efeitos no cérebro humano. Os estudos de neuroimagem até o momento têm produzido resultados inconclusivos, tornando o debate em torno dessa questão cada vez mais fervoroso.
Estudos de neuroimagem sobre os efeitos cerebrais da maconha

Estudos de neuroimagem têm desempenhado um papel fundamental na busca por compreender os efeitos da maconha no cérebro humano. Essas técnicas avançadas permitem a visualização e a análise das estruturas e funções cerebrais, oferecendo insights valiosos sobre como a cannabis afeta o órgão central do sistema nervoso.
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Consequências neurotóxicas de longo prazo de uso de cannabis
Uma das áreas mais exploradas em pesquisas de neuroimagem relacionadas à maconha é o sistema endocanabinoide do cérebro, que é fundamental para o processamento das propriedades psicoativas da cannabis. Os receptores canabinóides, como o CB1, estão distribuídos por todo o cérebro e desempenham um papel crucial na regulação do humor, apetite, memória e outras funções cognitivas. Estudos nessa área revelam como a ativação desses receptores estão associadas a diferentes efeitos da maconha.
Além disso, a maconha tem sido associada a mudanças na conectividade cerebral. A ressonância magnética funcional (fMRI) tem sido usada para examinar como o uso da maconha afeta as redes cerebrais. Por exemplo, estudos demonstraram que a maconha pode modificar a conectividade funcional entre regiões cerebrais envolvidas na tomada de decisões, na atenção e na memória de trabalho.
Técnicas de neuroimagem para investigar alterações
As técnicas de neuroimagem, como a ressonância magnética (MRI) e a tomografia por emissão de pósitrons (PET), têm sido utilizadas para investigar os efeitos da maconha no cérebro humano. Essas técnicas permitem visualizar de forma não invasiva as estruturas cerebrais e também o funcionamento neuroquímico.
Através de técnicas de imagem por ressonância, pesquisadores têm buscado identificar alterações morfológicas no cérebro de usuários de maconha. Alguns estudos relataram diferenças em áreas como o hipocampo e o córtex pré-frontal, que desempenham funções cruciais na memória e no processamento cognitivo. No entanto, os resultados nessa área ainda são variáveis e carecem de conclusões definitivas.
Ainda, esses estudos também estão explorando como a maconha afeta o cérebro de pessoas com transtornos mentais, como a esquizofrenia. Essas pesquisas buscam compreender como a cannabis pode interagir com as vulnerabilidades genéticas e ambientais que predispõem indivíduos a transtornos psicóticos.
Comparação com estudos sobre outras drogas de abuso
Como já mencionado anteriormente, o estudo sobre os efeitos da maconha no cérebro humano a longo prazo é uma parte ainda escassa hoje em dia. Em comparação com outras drogas, como o álcool e a nicotina, por exemplo, não temos quase nada em relação à cannabis. No entanto, mesmo com pesquisas ainda limitadas, os estudos já começaram. Assim, a tendência é ampliar e revisar continuamente as evidências sobre o uso da maconha, construindo uma base científica mais sólida sobre uma substância amplamente utilizada e ainda pouco compreendida.
O debate em torno dos efeitos da maconha no cérebro humano

Diante do que foi apresentado, o debate sobre os efeitos da maconha no cérebro ainda exige pesquisas mais aprofundadas. Ainda assim, por se tratar de um tema atual e especialmente relevante para os jovens, cresce a busca por informações sobre o uso contínuo da cannabis e seus impactos. Entre eles, destaca-se a possível relação com a esquizofrenia, assunto que será abordado a seguir.
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Uso contínuo da cannabis e casos de esquizofrenia
Nesse contexto, uma pesquisa conduzida por cientistas da Universidade de Copenhague, envolvendo mais de 7 milhões de indvíduos na Dinamarca, revelou que o consumo de cannabis pode quadruplicar o risco de esquizofrenia. Logo, este estudo estabeleceu uma ligação entre o uso de maconha durante a adolescência e uma probabilidade elevada de receber um diagnóstico de esquizofrenia no futuro.
É crucial salientar que não há evidências nas pesquisas indicando que o uso “ocasional” de maconha possa causar efeitos prejudiciais. No entanto, o uso regular e frequente da substância apresenta um potencial risco para o surgimento de distúrbios esquizofrênicos.Assim, esse risco se torna mais elevado em pessoas que já apresentam predisposição biológica para alterações em determinadas áreas do cérebro.
O estudo examinou todos os fatores de risco relacionados ao desenvolvimento da esquizofrenia, revelando que o uso de cannabis para automedicação foi quatro vezes mais prevalente em comparação com pessoas que tinham o transtorno por outras razões, as quais permaneceram estáveis. Logo, a maconha tem o potencial de desencandear a esquizofrenia latente. Além disso, o risco de desenvolver essa condição e outras psicoses aumenta, especialmente quando o uso ocorre em idades mais precoces, como na adolescência.
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Então, o uso de maconha na adolescência torna-se especialmente arriscado porque essa fase é decisiva para a maturação dos circuitos neurais do cérebro. Nesse período, os canabinoides podem interferir nessa organização cerebral e, assim, aumentar o risco de desencadear transtornos psiquiátricos, como a esquizofrenia.
Conclusão
Diante do exposto, fica explícito que as pesquisas científicas que temos acerca da maconha, evidenciam que seu uso pode ter e tem efeitos adversos no cérebro humano. Isso pode ser a causa do desenvolvimento de distúrbios psiquiátricos, como é o caso da esquizofrenia. Nesse contexto, estudos mostram que o uso contínuo e a exposição crônica do indivíduo à substância causam danos psicológicos a longo prazo.
Ademais, a maioria dos pesquisadores nessa área concordam que o conjunto dos indícios recolhidos até hoje apontam para uma relação causal entre maconha e esquizofrenia.
Além disso, é amplamente conhecido que o uso da maconha pode gerar dependência e comprometer toda a vida do indivíduo. Por isso, para prevenir o agravamento do vício e reduzir o risco de doenças graves e crônicas, como a esquizofrenia, é essencial adotar ações que ajudem a evitar ou interromper o consumo.
Por fim, o Grupo Recanto possui intervenções voltadas para a dependência química e saúde mental. Além disso, conta com uma equipe multidisciplinar especializada e com uma estrutura adequada para atender pacientes com diferentes quadros psiquiátricos. Concluindo, nós desenvolvemos uma abordagem humanizada e individualizada, que busca compreender cada paciente em suas especificidades, sem julgamentos ou preconceitos.












