A coragem de pedir ajuda: um novo olhar sobre a internação
Durante muito tempo, a internação psiquiátrica foi vista com medo e preconceito. Muitas famílias escondiam o diagnóstico, e pacientes eram julgados por buscarem tratamento. Mas o movimento de artistas e influenciadores falando abertamente sobre suas internações vem quebrando o estigma e humanizando o sofrimento psíquico.
Nos últimos meses, a imprensa brasileira trouxe à tona relatos importantes de artistas que decidiram se internar para cuidar da saúde mental.

O caso mais recente é o do humorista Whindersson Nunes, que revelou ter buscado ajuda profissional e se internado voluntariamente em uma clínica psiquiátrica para tratar depressão e ansiedade.
A decisão do artista, amplamente noticiada em veículos como UOL e Revista Saúde, foi recebida com respeito e empatia — um sinal de que a sociedade começa a entender que cuidar da mente é tão importante quanto cuidar do corpo.
Após algumas semanas de tratamento, Whindersson teve alta médica e, segundo familiares, “estava feliz com sua evolução e mais fortalecido para retomar sua rotina”.
Outros artistas também têm falado abertamente sobre seus processos de internação e tratamento: Manu Gavassi, Britney Spears, Selena Gomez, Demi Lovato e Gusttavo Lima, em momentos diferentes, decidiram se afastar para cuidar do emocional e retornar com mais equilíbrio.
Esses relatos reforçam uma mensagem poderosa: a internação não é um fim — é um recomeço.

Por que artistas e pessoas comuns buscam a internação
A vida pública e o trabalho sob pressão, somados à exposição constante nas redes sociais, criam um cenário de esgotamento emocional e adoecimento psíquico. Mas o sofrimento mental não escolhe profissão: ele atinge qualquer pessoa, independentemente de status, fama ou condição econômica.
A internação psiquiátrica surge, nesses casos, como uma medida terapêutica e protetiva, indicada quando há:
- Risco à própria vida (como ideação ou tentativas de suicídio);
- Risco a terceiros, por surtos psicóticos, impulsividade ou agressividade;
- Perda da capacidade de autocuidado;
- Falta de resposta ao tratamento ambulatorial (em casa ou consultório);
- Crises agudas de dependência química, depressão ou transtorno bipolar.
O objetivo da internação é estabilizar o quadro clínico, oferecer ambiente seguro e monitorado, e permitir que o paciente retome o controle sobre si mesmo, com acompanhamento médico e psicológico 24 horas.

Internação não é punição: é cuidado
Durante muito tempo, o tema “internação psiquiátrica” foi cercado de preconceitos. As antigas instituições manicomiais — hoje extintas — deixaram marcas na memória coletiva.
Porém, a Lei nº 10.216/2001, conhecida como Lei da Reforma Psiquiátrica, transformou profundamente a forma de cuidar da saúde mental no Brasil.
Essa legislação garante os direitos e a dignidade da pessoa em sofrimento psíquico, define regras claras para a internação e estabelece que o tratamento deve ocorrer com base no respeito, sigilo e liberdade assistida, sempre visando o retorno à convivência familiar e social.
Existem três modalidades reconhecidas de internação:
- Voluntária — quando o próprio paciente solicita ajuda.
- Involuntária — a pedido da família, mediante laudo médico, comunicada ao Ministério Público.
- Compulsória — determinada judicialmente, em casos graves e com risco à integridade física.
Em todos os casos, o foco é cuidar, tratar e reabilitar, nunca punir.
Os benefícios da internação: o que mostram os relatos e a prática clínica
A decisão de se internar, embora difícil, pode ser um divisor de águas na recuperação emocional. Os relatos de artistas e pacientes que passaram por esse processo revelam benefícios importantes:
1. Ambiente protegido e livre de gatilhos
Afastar-se de situações estressantes, pessoas ou substâncias que agravam o quadro mental permite que o cérebro e o corpo voltem a um estado de equilíbrio. A segurança física e emocional é o primeiro passo para a recuperação.
2. Acompanhamento intensivo
Durante a internação, o paciente recebe monitoramento médico, psicológico e terapêutico constante, com ajuste de medicação, psicoterapia individual e em grupo, e suporte emocional contínuo.
3. Rotina estruturada
A previsibilidade diária ajuda a reduzir a ansiedade e restaurar hábitos saudáveis de sono, alimentação e autocuidado.
4. Reintegração gradual da autoestima
Ao perceber avanços e acolhimento, o paciente volta a acreditar em si mesmo. É o que aconteceu com Whindersson Nunes, cuja alta foi marcada por mensagens de alívio e orgulho dos pais: “Nosso filho está bem, se cuidando, e isso é o mais importante”.
5. Planejamento de retorno à vida social
A equipe terapêutica prepara o paciente para o pós-alta, oferecendo orientações para manter a estabilidade emocional e prevenir recaídas.

Os principais CIDs que justificam a internação em saúde mental
De acordo com a Classificação Internacional de Doenças (CID-10), elaborada pela OMS, os códigos mais relacionados às internações psiquiátricas incluem:
F10 a F19 – Transtornos mentais e comportamentais devido ao uso de substâncias psicoativas
Abrangem o abuso e a dependência de álcool, crack, cocaína, maconha, remédios controlados e outras drogas. O uso contínuo pode causar delírios, agressividade, abstinência grave e risco de overdose, exigindo desintoxicação em ambiente hospitalar.
Internação indicada: quando há perda de controle, abstinência perigosa ou risco à integridade física.
F20 a F29 – Esquizofrenia e transtornos delirantes
Caracterizam-se por alucinações, delírios, desorganização do pensamento e dificuldade de distinguir a realidade. A internação garante acompanhamento psiquiátrico intensivo, ajuste de medicação e segurança.
F30 a F31 – Transtornos afetivos bipolares
O transtorno bipolar provoca oscilações intensas entre euforia (mania ou hipomania) e depressão profunda. Durante as fases de crise, o paciente pode agir impulsivamente ou apresentar ideação suicida. A internação visa estabilizar o humor e prevenir danos.
F32 a F33 – Episódios depressivos e transtorno depressivo recorrente
Quando há tristeza persistente, apatia, isolamento e pensamentos de morte, a internação pode evitar tragédias e promover recuperação em ambiente protegido. É uma das causas mais comuns entre internações voluntárias, especialmente entre jovens e artistas.
F40 a F43 – Transtornos de ansiedade e reações ao estresse grave
Incluem pânico, fobias, estresse pós-traumático e crises de ansiedade intensa.
A internação é indicada em casos de perda de funcionalidade ou risco de autoextermínio.

O que acontece dentro da clínica: o tratamento na prática
A internação psiquiátrica segue um plano terapêutico individualizado, elaborado após avaliação médica e psicológica. No Grupo Recanto, esse cuidado ocorre dentro de um modelo biopsicossocial, que considera a pessoa como um todo — corpo, mente e ambiente.
As etapas geralmente incluem:
- Avaliação diagnóstica completa;
- Controle medicamentoso e desintoxicação (quando necessário);
- Psicoterapia individual e em grupo;
- Atividades terapêuticas e ocupacionais (como arte, música e esporte);
- Terapia familiar e psicoeducação;
- Planejamento de alta e acompanhamento ambulatorial.
Essa abordagem multidisciplinar é o que garante resultados duradouros e reduz o risco de recaídas.

O papel da família na recuperação
Em qualquer processo de internação psiquiátrica, a família é um pilar fundamental. Mais do que visitantes ocasionais, os familiares são parte ativa no tratamento e desempenham funções que vão desde o apoio emocional até a continuidade do cuidado após a alta.
Muitas vezes, o sofrimento mental de um ente querido vem acompanhado de angústia, culpa e impotência familiar. É comum que pais, cônjuges ou filhos sintam que falharam ou que não sabem como lidar com o comportamento do paciente.
Durante a internação, a equipe multiprofissional promove encontros de psicoeducação familiar, explicando de forma acessível o diagnóstico, os sintomas, os efeitos dos medicamentos e as etapas do tratamento.
Quando a família compreende que a internação é uma medida de proteção e cuidado, e não de exclusão, o paciente se sente mais seguro e confiante para cooperar com o tratamento.
Mesmo que o paciente esteja internado, a presença da família continua sendo terapêutica. Visitas programadas, chamadas de vídeo, cartas ou mensagens — tudo isso contribui para fortalecer o vínculo afetivo e mostrar ao paciente que ele não está sozinho.
Esses gestos simples têm efeito clínico comprovado: reduzem a ansiedade, aumentam a adesão ao tratamento e aceleram o processo de recuperação.
O cuidado não termina no momento da alta. Ao sair da clínica, o paciente precisa retornar a um ambiente doméstico organizado, acolhedor e sem gatilhos que possam gerar recaídas.
O processo de recuperação mental não é linear — exige tempo, paciência e constância. Mas quando a família se envolve de forma consciente, o paciente se sente pertencente, valorizado e apoiado, o que potencializa os resultados terapêuticos.
O que aprendemos com os artistas que decidiram se cuidar
Os casos de Whindersson Nunes e de outros artistas mostram que reconhecer o limite é um ato de bravura. Optar pela internação não é “fraqueza”, mas sim uma forma de dizer: “eu mereço cuidar de mim.”
Assim como eles, qualquer pessoa pode — e deve — buscar ajuda profissional. A internação, quando indicada, não representa o fim de uma fase, mas o início de um processo de autoconhecimento e reconstrução.
Essas experiências ensinam que o tratamento não é apenas sobre medicação, mas também sobre reconstruir vínculos, redescobrir limites e retomar o sentido da vida. Quando o cuidado é ético, empático e orientado por profissionais, o resultado é transformação e autonomia.
O paciente aprende a se observar, reconhecer sinais de crise e buscar apoio antes que o sofrimento se torne insuportável.

Conclusão: cuidar da mente é um investimento na vida
A internação psiquiátrica é um recurso terapêutico legítimo, respaldado pela medicina e pela legislação, e deve ser vista como parte do tratamento e não como estigma. Ela devolve ao paciente a possibilidade de recomeçar com equilíbrio, segurança e dignidade.
Se você ou alguém que ama está enfrentando sofrimento emocional intenso, saiba que buscar ajuda é um ato de amor e coragem.
Grupo Recanto — O lugar para recomeçar
Atendimento especializado em saúde mental e dependência química, com ética, sigilo e acolhimento.
Pernambuco – Brasil
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