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Saúde mental e espiritualidade: qual a influência no caminho da cura

O ser humano sempre apresentou uma tendência à espiritualidade. Não necessariamente uma religião, mas todos os povos em suas culturas e sua expressão sempre se importaram com aquilo que é metafísico. Ou seja, aquilo que vai além do palpável, do visto a olho nu e a olhos microscópicos.

Diante disso, no início da história da medicina, a espiritualidade era algo a ser, pelo menos, percebido. Contudo, com o passar do tempo e a cientificação da medicina e das outras áreas da saúde as coisas mudaram. Logo, a espiritualidade acabou sendo deixada de lado nos consultórios, mas será que deixamos de ser pessoas espiritualizadas?

Apesar dos avanços científicos e tecnológicos, muitas pessoas ainda convivem com sentimentos de desamparo e inquietação existencial. Nesse contexto, fica evidente que essas ferramentas nem sempre alcançam dimensões mais profundas do ser. Por isso, a espiritualidade surge como um aspecto essencial que precisa ser considerado nos processos de cuidado e cura.

Saúde e Espiritualidade: Essa relação é possível?

Todas as áreas da saúde atualmente buscam trabalhar com a visão do ser humano biopsicossocial, visão essa que para muitos consegue estruturar todas as necessidades do ser humano. O que seria isso? Entender que para uma pessoa estar bem e tomar cuidado de si precisa observar os aspectos biológico, psicológico e social. Contudo, nos últimos tempos, a psicologia tem se voltado ao estudo da espiritualidade e sua relação com a saúde mental, percebendo que para o bem estar total, seria necessário também cuidar do aspecto espiritual.

Em 1988, após vários estudos e comprovações de que a espiritualidade interfere na saúde, a Organização Mundial de Saúde (OMS) incluiu a dimensão espiritual no conceito multidimensional de saúde, ou seja, passou a enxergar o bem estar não só como uma ausência de doença, mas considerou além dos aspectos sociais, a espiritualidade.

Por isso, é necessário dar atenção para esse fator, entender melhor o que seria essa espiritualidade, o que de fato quer dizer. É necessário sair da visão rasa e preconceituosa, acreditando que aquilo que é metafísico não deve ser levado em consideração. Ou seja, não falaremos sobre a necessidade de uma religião, de uma doutrina, mas de entender que é necessário reconhecermos nossa integralidade, que contém a espiritualidade.

Contextualizando a saúde mental na história

Durante a história, por muitas vezes as doenças mentais eram vistas como vindas de uma causa sobrenatural. Ou seja, aquilo que não conseguiam explicar era visto como algo aleatório e que podia chegar pela impureza da alma ou por “revolta dos Deuses”. Contudo, desde o antigo Egito, o berço da medicina, já existia a busca da sistematização dessas doenças, para bem saber tratá-las. Foi durante a Grécia antiga que os filósofos daquele tempo, tinham como principal representante Hipócrates. Visto isso, estruturaram um tratamento para situações que envolviam a saúde mental, resumindo seu tratamento a o apoio e o conforto dos doentes.

O pai da psiquiatria

Contudo, foi apenas no século XVII que o conceito de saúde mental evoluiu do campo mitológico para o campo médico, tendo seu principal expoente no século XVIII, Philippe Pinel, o pai da psiquiatria. Este médico francês teve o mérito de estruturar o espaço que poderia acolher essas pessoas, e tratá-las, quando na época essas pessoas eram apenas estigmatizadas, sendo deixadas em órgãos que não tinham como tratar a situação, eram apenas deixados de lado. 

Historicamente, os asilos sem estrutura deram lugar a instituições especializadas em saúde mental. Inicialmente, o tratamento buscava reeducar os pacientes com base no respeito e na convivência terapêutica, como defendia Pinel, que propunha equilíbrio entre firmeza e gentileza. Com o tempo, porém, essa visão se distorceu, dando origem a práticas corretivas marcadas pela imposição de disciplina institucional.

Ao longo da história, a espiritualidade foi sendo deixada de lado na saúde mental, tanto pelos traumas do passado quanto pela cientificação da medicina. Assim, buscou-se excluir abordagens espirituais por não serem mensuráveis. No entanto, surge a reflexão: o modelo biopsicossocial, sozinho, consegue realmente atender todas as necessidades humanas?

Leia também: Saúde mental: Saiba como se cuidar e a importância para o nosso bem-estar

A Espiritualidade e Ciência

O questionamento que fazemos aqui é matéria de pesquisas de cientistas e acadêmicos. O crescimento avassalador das doenças mentais na pós-modernidade, mesmo com uma imensidão de tratamentos e abordagens disponíveis, fazem questionar: será que estamos dando conta?  

Atualmente, observa-se um crescente interesse acadêmico por pesquisar o fenômeno espiritualidade e sua relação com a saúde mental. Isso devido a suas implicações para o bem-estar e a qualidade de vida das pessoas.

Práticas espirituais

Diversos estudiosos sustentam que a participação em práticas espirituais desempenha um papel importante na redução da angústia existencial. Por isso, fornece respostas que ajudam a lidar com conflitos emocionais, estabelecendo um sistema de orientação moral e ética e desencorajando comportamentos prejudiciais à saúde. Esses pesquisadores evidenciam uma correlação negativa entre o nível de envolvimento religioso e a ocorrência de depressão, pensamentos e ações suicidas, bem como o uso abusivo de substâncias como álcool e drogas.

Panzini e Bandeira (2005) mencionaram que estudos na área da saúde pública apontam que indivíduos envolvidos em práticas religiosas têm uma menor probabilidade de se envolver em comportamentos de risco, como violência, delinquência e uso abusivo de substâncias como álcool e drogas. Em outro estudo, Koenig (2001) observou que pacientes hospitalizados que se sentiam desvinculados de sua religiosidade e sem apoio de sua comunidade religiosa apresentaram maiores problemas psicológicos e taxas de mortalidade elevadas nos dois anos seguintes à sua alta hospitalar. 

Internação e falta de suporte

Além disso, um estudo realizado com pacientes submetidos a cirurgias cardíacas eletivas revelou que a falta de suporte e consolo religioso estava relacionada a um maior risco de morte nos seis meses após a intervenção cirúrgica (Dal-Farra & Geremia, 2010). Atualmente, estudos financiados pelo National Institute of Health dos Estados Unidos estão em andamento para avaliar o impacto da meditação em condições como hipertensão arterial sistêmica, doença isquêmica do miocárdio, doença inflamatória intestinal, vírus da imunodeficiência humana e dependência química. 

Portanto, a espiritualidade desempenha um papel relevante nas questões de saúde coletiva. Estudos com pacientes terminais também demonstraram que o conforto espiritual não apenas aumenta a esperança de vida. Além disso, também reduz os índices de depressão, pensamentos suicidas e desejo de morte iminente. 

Diante disso, os profissionais de saúde precisam refletir sobre seu papel na integração entre espiritualidade e saúde mental. Assim, torna-se essencial capacitar equipes e desenvolver estratégias de cuidado que abordem a espiritualidade de forma ética, clara e respeitosa no acompanhamento de pessoas em sofrimento psíquico.

Conclusão

Além disso, diversas evidências mostram que a espiritualidade, quando bem integrada à vida do indivíduo, pode contribuir positivamente para a saúde mental. Ademais, favorecendo equilíbrio emocional, sentido de vida e enfrentamento do sofrimento.

Estudos recentes reconhecem e valorizam a relação entre religiosidade, espiritualidade e qualidade de vida, independentemente da prática religiosa específica. Essas pesquisas indicam que a espiritualidade desempenha um papel protetor em relação a comportamentos. Por exemplo, tem-se suicídio, abuso de substâncias, depressão, comportamento delinquente e até mesmo alguns diagnósticos de psicoses funcionais. 

Diante desse cenário, é fundamental que os profissionais de saúde estejam preparados. Além disso, que adotem novas estratégias que permitam uma compreensão mais profunda dos aspectos religiosos. Isso tudo influencia a saúde dos pacientes e que os pacientes estejam atentos a esse aspecto fundamental da nossa saúde.

NÓS LIGAMOS PARA VOCÊ

Fabrício Selbmann é psicanalista, palestrante sobre Dependência Química e diretor da Recanto Clínica Hospitalar – rede de três clínicas de tratamento para dependência química e saúde mental, referência no Norte e Nordeste nesse segmento.

Especialista em DependênciaQuímica pela UNIFESP, pós-graduado em Filosofia | Neurociências | Psicanalise pela PUC-RS, além de especialização na Europa sobre o modelo de tratamento Terapia Racional Emotiva (Minessota).

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