Recanto Clínica Hospitalar – Um lugar de reencontro!

Atendimento 24 horasLigue agora! 4007-2316

Os riscos de não internar um dependente químico: o que está em jogo quando o tratamento é adiado

A dependência química é reconhecida oficialmente como uma doença que tem tratamento, segundo o Governo Federal

Ela afeta o corpo, a mente e as relações sociais de forma progressiva e, se não tratada adequadamente, pode levar a sérias consequências físicas, emocionais e até à morte.

Quando o dependente químico não recebe acompanhamento profissional — especialmente nos casos em que há perda de controle sobre o uso de substâncias ou risco à vida — o quadro tende a se agravar rapidamente. 

Muitos familiares acreditam que o problema pode ser resolvido com força de vontade ou que o uso vai “diminuir com o tempo”, mas a realidade é que a dependência é uma doença crônica e recidivante, que exige tratamento estruturado e intervenção médica.

A internação involuntária, prevista por lei, é uma alternativa segura e humanizada em casos nos quais o paciente perde a capacidade de decisão e coloca a si mesmo ou terceiros em risco. 

Negar ou adiar esse passo pode representar um risco não apenas à saúde do dependente, mas também à estabilidade emocional e financeira de toda a família.

Neste artigo, vamos abordar de forma clara e empática os riscos de não internar um dependente químico, explicando os impactos físicos, psicológicos, sociais e legais dessa decisão — e como a família pode agir com segurança, responsabilidade e amor.

O que acontece quando o dependente químico não recebe tratamento

A dependência química é uma doença progressiva. Isso significa que, sem tratamento, ela nunca permanece estável — sempre tende a piorar. 

O dependente passa a viver em função da substância, perde o controle do consumo e começa a negligenciar todas as outras áreas da vida: trabalho, estudos, relacionamentos e autocuidado.

Um ciclo de destruição silenciosa

O processo de deterioração não acontece de um dia para o outro. No início, o uso pode parecer controlado. Com o tempo, a substância se torna a única fonte de prazer e alívio, substituindo os vínculos afetivos e o senso de responsabilidade.

Segundo especialistas em saúde mental, a ausência de tratamento leva à perda gradual da autonomia, deterioração cognitiva e colapso emocional.

Por que o acompanhamento profissional é essencial

A internação — seja voluntária ou involuntária — oferece uma estrutura de desintoxicação segura, estabilização médica e acompanhamento terapêutico interdisciplinar. O tratamento não se limita à abstinência, mas trabalha o autoconhecimento, a reeducação emocional e a reinserção social.

Sem esse suporte, o dependente permanece preso a um ciclo de recaídas e sofrimento.

Impactos físicos e psicológicos do uso contínuo de substâncias

O uso prolongado de drogas e álcool afeta diversos sistemas do organismo. Cada substância tem efeitos específicos, mas todas provocam deterioração física e cerebral.

Danos à saúde física

  • Sistema cardiovascular: risco elevado de infartos e AVCs.
  • Fígado e rins: sobrecarga tóxica que pode levar à falência orgânica.
  • Sistema respiratório: enfisema, pneumonia e insuficiência respiratória.
  • Sistema nervoso central: perda de memória, dificuldade de concentração e alterações motoras.

Esses efeitos, quando não tratados, tornam-se irreversíveis. Além disso, a imunidade cai, aumentando o risco de infecções e doenças oportunistas.

Danos à saúde mental

O abuso de substâncias compromete diretamente o equilíbrio químico do cérebro. O dependente passa a apresentar sintomas como:

  • Depressão e ansiedade intensas
  • Irritabilidade e impulsividade
  • Alucinações e delírios persecutórios
  • Transtornos psicóticos induzidos por substâncias

Craig Nakken, em A Personalidade Adictiva, descreve a dependência como um “processo de autodestruição disfarçado de conforto”. O usuário acredita que está se protegendo da dor, quando na verdade está reforçando o ciclo de sofrimento.

Como a dependência afeta o convívio familiar e o ambiente social

A dependência química é uma doença familiar. Ela desestrutura não apenas o dependente, mas todo o sistema ao redor.

Conflitos e desgaste emocional

Mentiras, promessas quebradas e manipulação são comportamentos comuns no ciclo da dependência. A família passa a viver em constante tensão, entre a esperança da recuperação e o medo das recaídas.

Com o tempo, surgem sentimentos de raiva, culpa e impotência, que também precisam ser tratados — pois os familiares desenvolvem o que chamamos de co-dependência emocional.

Isolamento e perda de vínculos sociais

O dependente químico tende a se afastar de amigos e ambientes saudáveis. Isso amplia o isolamento e aprofunda o ciclo de negação. A solidão torna-se o terreno fértil para recaídas e comportamentos destrutivos.

A importância do suporte familiar

Durante e após a internação, o apoio familiar é essencial para a reintegração social e emocional do paciente. O tratamento eficaz envolve tanto o dependente quanto seus familiares em terapias de grupo e acompanhamento psicossocial.

Por que o dependente acha que pode parar sozinho

A negação é um dos sintomas centrais da dependência química. O dependente acredita sinceramente que pode controlar o uso, mesmo diante de provas evidentes do contrário.

O mecanismo da negação

A substância altera áreas cerebrais relacionadas ao prazer, motivação e julgamento. O cérebro “aprende” a priorizar o uso da droga como forma de sobrevivência, distorcendo a percepção de realidade.

Por isso, o dependente costuma dizer frases como:

  • “Eu paro quando quiser.”
  • “Eu controlo.”
  • “Não é tão grave assim.”

Essas falas refletem a perda da capacidade crítica, e não simples teimosia.

A ilusão do controle

Como mostra Nakken, a dependência cria uma “relação de confiança patológica” com a substância — o usuário acredita que ela o protege da dor emocional. A função da internação, nesse contexto, é romper essa ilusão com segurança, oferecendo espaço terapêutico para o indivíduo reconhecer sua doença.

Consequências legais e financeiras da dependência sem tratamento

A ausência de tratamento também traz sérias repercussões econômicas e jurídicas.

Impactos financeiros

  • Perda de emprego por faltas e mau desempenho.
  • Endividamento para sustentar o vício.
  • Venda de bens pessoais ou da família.

O uso contínuo consome todos os recursos disponíveis, levando muitas famílias à ruína financeira.

Consequências legais

A perda de discernimento e o comportamento impulsivo podem resultar em:

  • Envolvimento com crimes patrimoniais (furtos, estelionato).
  • Violência doméstica e agressões.
  • Acidentes de trânsito sob efeito de drogas.

Em muitos casos, a internação involuntária se torna uma medida preventiva para evitar tragédias e garantir que o tratamento ocorra de forma segura e ética.

O risco de overdose e complicações médicas

Entre os maiores perigos de não tratar a dependência está o risco de overdose. Com o tempo, o organismo cria tolerância, exigindo doses cada vez maiores para obter o mesmo efeito. Essa escalada pode ser fatal.

Principais causas de overdose

  • Mistura de drogas e medicamentos.
  • Uso em momentos de abstinência (o corpo já enfraquecido não suporta a dose anterior).
  • Consumo de substâncias adulteradas ou de alta pureza.

A overdose pode causar:

  • Parada cardíaca
  • Insuficiência respiratória
  • Convulsões e coma
  • Morte súbita

A internação hospitalar ou clínica especializada oferece acompanhamento médico 24 horas, monitoramento cardíaco e tratamento de desintoxicação, reduzindo drasticamente esses riscos.

Efeitos do adiamento do tratamento sobre a saúde mental

Adiar o tratamento é prolongar o sofrimento. Cada dia sem ajuda é uma oportunidade perdida de recuperação.

Agravamento de transtornos mentais

A dependência química costuma coexistir com outros transtornos, como depressão, ansiedade, bipolaridade e transtorno de personalidade. Sem intervenção, esses quadros se intensificam, podendo gerar surtos psicóticos, automutilação e tentativas de suicídio.

Perda da autonomia emocional

O dependente se torna cada vez mais incapaz de lidar com frustrações, emoções e relações humanas. Sua identidade se confunde com o uso da substância, levando à despersonalização e desesperança.

A intervenção precoce é fundamental para preservar a saúde mental e restaurar o equilíbrio emocional.

O papel da família diante da recusa do dependente em se tratar

A família precisa entender que não é responsável pela doença, mas pode ser parte fundamental da solução.

O que fazer (e o que evitar)

Evite:

  • Ameaças, chantagens e julgamentos.
  • Tentar controlar o uso ou esconder as consequências.

Faça:

  • Busque ajuda profissional o quanto antes.
  • Informe-se sobre opções de tratamento e legislação.
  • Considere a internação involuntária quando houver risco real à vida.

A internação involuntária como último recurso

Prevista na Lei 13.840/2019, a internação involuntária é autorizada quando o dependente representa perigo para si ou para terceiros e recusa tratamento. 

Ela deve ocorrer com avaliação médica e notificação ao Ministério Público, garantindo o respeito aos direitos humanos e a dignidade do paciente.

No Grupo Recanto, esse processo é conduzido com acompanhamento multiprofissional, segurança e acolhimento — sempre priorizando o cuidado e a reabilitação integral.

Conclusão: há sempre um caminho para a recuperação

A dependência química é uma doença séria, mas existe recuperação possível. Negar o problema ou adiar o tratamento só aprofunda o sofrimento. A internação involuntária, em casos extremos, pode ser o primeiro passo para salvar uma vida.Buscar ajuda é um ato de coragem e amor — tanto da família quanto do próprio paciente. Com apoio médico, psicológico e espiritual, é possível reconstruir vínculos, retomar projetos e recuperar a esperança.

NÓS LIGAMOS PARA VOCÊ

Fabrício Selbmann é psicanalista, palestrante sobre Dependência Química e diretor da Recanto Clínica Hospitalar – rede de três clínicas de tratamento para dependência química e saúde mental, referência no Norte e Nordeste nesse segmento.

Especialista em DependênciaQuímica pela UNIFESP, pós-graduado em Filosofia | Neurociências | Psicanalise pela PUC-RS, além de especialização na Europa sobre o modelo de tratamento Terapia Racional Emotiva (Minessota).

Posts Recentes