É muito difícil estabelecer um perfil de um alcoólatra, pois não existe somente um padrão para quem bebe compulsivamente.
O álcool é uma droga de reconhecimento social e cultural em nosso país e em vários outros países do mundo, por isso é difícil combatê-la.
Para melhor entender sobre o risco que ela apresenta, segundo a OPAS (Organização Pan-Americana de Saúde) o álcool colabora para mais de 300 mil mortes por ano nas Américas.
Dessas 300 mil mortes, 85 mil vem de direta influência do álcool, sendo os principais causadores da morte por influência alcoólica, doenças hepáticas (64%) e transtornos psiquiátricos (27%).
Contudo, mesmo com dados tão aterrorizantes, o consumo do álcool continua se perpetuando.
Quando esse uso se acentua demais pode virar abuso. O passo seguinte já seria o alcoolismo.
O que é o alcoolismo?
O alcoolismo é definido como uma doença de cunho psiquiátrico e incapacitante.
A OMS (Organização Mundial da Saúde) considera a doença pela incapacidade diante do consumo alcoólico em função de uma dependência física e emocional.
Sendo considerada uma doença por fatores sociais, psicológicos e biológicos.
O alcoolismo ou a dependência química do álcool, faz com que essa pessoa pense obsessivamente e se comporte compulsivamente.
A pessoa não consegue parar de pensar em consumir a bebida e quando o faz, é de maneira descontrolada, muitas vezes levando a outras consequências.
Essa condição acomete cerca de 4 milhões de Brasileiros de acordo com a OMS, equivalente a 3% da população.
Parece pouco, mas esse número é maior do que os números do surto de conjuntivite em 2017-2018, que é uma doença muito comum, de fácil transmissão, e possui uma média de 2 milhões de casos por ano.
Qual o perfil de um alcoólatra?
O perfil de um alcoólatra são os comportamentos manifestados e o estilo de vida que leva alguém que se enquadra na descrição de alcoólatra.
Um comportamento muito comum é o aumento da frequência em que consome a bebida e com doses maiores.
O viciado passa a ter oscilações de humor mais frequentemente, irritação e agressividade, assim como isolamento social podem fazer parte desse perfil.
Dificuldade de se relacionar com a família e amigos próximos, em virtude do pensamento obsessivo para com a bebida, não conseguir lidar com situações simples do dia a dia.
Isso ocorre, pois o que domina o pensamento e as ações dessa pessoa é apenas o álcool.
O desejo do corpo e da mente por essa substância faz com que negligencie ou não dê importância a outras coisas como família e amigos.
A mudança de hábitos e do círculo social é algo comum nessas situações, pois a pessoa procura aqueles que apoiam seu vício.
É frequente no alcoólatra a negação, por mais que esteja evidente, muitos não aceitam que estão nessa situação e consideram que ainda possuem o controle.
O alcoólatra dificilmente conseguirá manter compromissos ou assumir novas responsabilidades, em virtude de seu modo de pensar e agir.
Perfil de um alcoólatra: conheça os tipos
O que você acabou de ler é um perfil geral do que é um alcoólatra, mas dentro dessa patologia, se apresentam vários tipos diferentes de viciados.
Os principais tipos de alcoólatras são:
Alcoólatra funcional
Um alcoólatra funcional é aquele que foge um pouco da definição do alcoolismo.
Mesmo bebendo de maneira acentuada e por vezes descontrolada, ainda consegue manter boas relações familiares e no trabalho.
Esse alcoólatra apesar de já apresentar sintomas como ganho ou perda de peso, problemas com sono, problemas na saúde (principalmente coração, fígado e cérebro) ainda mantém um bom convívio com os outros e consigo mesmo.
Embora essa boa convivência seja uma questão de tempo até acabar, quanto mais tempo a pessoa fica sem o tratamento para alcoolismo, mais os sintomas indesejados ficam mais fortes.
O tipo de pessoas mais comuns nesse tipo são homens acima dos 30 anos e até os 60 anos.
Alcoólatra crônico
Apesar de beberem em menor dose, os alcoólatras crônicos bebem com maior frequência.
Esse tipo de alcoólatra começou a beber muito cedo, geralmente ainda na infância ou adolescência e o consumo não parou desde então.
Apesar de representar menos de 10% dos alcoólatras, esse grupo é o que tem a maior chance de desenvolver outras doenças em conjunto ao alcoolismo, o que chamamos de comorbidade.
A maioria desses alcoólatras vem de famílias onde também há outros adictos e possuem chance elevada de apresentar transtornos de personalidade.
Divórcios, briga com amigos, problemas no trabalho, demissão por justa causa, entrada em emergências; esse grupo já passou por essas situações mais vezes do que qualquer outro.
É comum também que esses alcoólatras façam uso e sejam dependentes de outras drogas, além do álcool.
Alcoólatra familiar intermediário
Esses alcoólatras foram introduzidos nesse meio por conta de amigos e familiares no final da adolescência e início da juventude.
Assim como os crônicos é comum que façam uso de outras substâncias além do álcool e possuem também boas chances de desenvolver transtornos mentais em decorrência desse uso.
A maioria dos integrantes desse grupo ainda consegue manter uma boa relação familiar e articular o trabalho e outros afazeres, pois apesar dos sintomas do álcool frequentam grupos de apoio e/ou fazem sessões de terapia particulares.
Leia também: Usuário de drogas: Como identificar, dificuldades e tratamento
Alcoólatra jovem adulto
Esse é o maior grupo, com quase um terço do total.
Esses jovens já se tornaram dependentes ainda na juventude, por volta dos 21 aos 24 anos.
Bebem em uma frequência menor que os outros tipos, pois a maioria tem outras atividades na rotina, mas quando o fazem exageram, esse tipo de comportamento está associado também a exageros comportamentais.
Estes iniciam a prática da bebida muito mais por um contexto social de descoberta e de início da vida adulta.
Leia também: O fundo do poço: o colapso na vida do dependente químico
Alcoólatra jovem antissocial
- Em sua maioria jovens que se tornaram dependentes antes mesmo dos 20 anos.
- Compõe em média 20% dos alcoólatras totais do país.
- Essa categoria é assim chamada, pois a maioria dos integrantes possui o transtorno de personalidade antissocial, conhecido popularmente por sociopatia.
- É comum também a presença de outros transtornos, como TOC, depressão, transtornos ansiosos e outros transtornos de personalidade.
- A maioria são homens e de baixa escolaridade, com poucas oportunidades de trabalho.
- Também costumam fazer uso de outras drogas como maconha, cocaína, cigarro, purple drink, MD, LSD.
Como se inicia o vício do álcool?
A maioria dos alcoólatras começam a beber desde muito cedo, seja por influência da família ou de amigos.
As curtições em baladas e noitadas começam mais cedo e com isso os exageros, para aqueles que começam muito cedo é apenas uma questão de progressão natural.
A bebida consegue um espaço de consoladora e libertadora ao mesmo tempo.
O álcool é um escape usado quando não se consegue lidar com certos sentimentos e ao mesmo tempo de “destravar” a pessoa para certas situações.
Assim, principalmente, os jovens estão muito suscetíveis a esse efeito, porém há outras situações que facilitam esse vício.
Situações como pais alcoólatras, a perda de alguém querido, o término de um relacionamento, saída do emprego, podem acentuar o consumo do álcool e levar a um vício.
Cada um terá sua razão particular para com seu vício, mas além do fator sociocultural, o fator emocional é um forte contribuidor.
Efeitos e consequências do alcoolismo
Sendo um tipo de dependência química, o alcoolismo causará problemas em todas as áreas da vida da pessoa: social, familiar, profissional, mental, física.
O alcoolismo irá pouco a pouco degradar a vida daquele que for alcoólatra, as principais consequências são:
- Aumento das chances de desenvolvimento de comorbidades.
- Chance de câncer de mama, fígado, cólon, reto, boca, laringe, esôfago, estômago, garganta.
- Danos e prejuízos nas funções cognitivas (pensamento, atenção, concentração, memória)
- Problemas gastrointestinais.
- Problemas cardiovasculares.
- Problemas imunológicos.
- Doenças no fígado e pâncreas.
- Pode provocar ansiedade, depressão e transtornos de personalidade.
- Disfunções sexuais, aborto espontâneo e natimorto.
Sintomas de alcoolismo que indicam que é hora de procurar ajuda
Diante de tudo que foi exposto até aqui é possível ver que o álcool não é uma substância qualquer e que não deveria ser usada de forma descontrolada.
Assim, é importante entender que sinais são demonstrados quando o alcoolismo já está afetando a vida da pessoa e quando é a hora de procurar ajuda.
É importante ver se consegue parar de beber, pois se já tentou várias vezes e sempre voltou nas primeiras oportunidades, pode ser um sinal.
A vontade e necessidade de beber independente da situação é um sinal de que o corpo está procurando sempre repor as substâncias no cérebro para proporcionar bem-estar e prazer.
Mudança no ciclo de amizades, os alcoólatras frequentemente mudam de amigos e/ou colegas para aqueles com que podem beber mais e em estágios mais avançados o isolamento para beber sozinho.
Mudança de humor mais frequente e agressividade quando confrontado são sinais claros do alcoolismo.
Alterações do sono como dormir demais ou ter insônia, aliados a ganho ou perda de peso, podem ser sinais do efeito do excesso de álcool no corpo.
Quem consome o álcool por muito tempo, mesmo enquanto sóbrio, pode apresentar dificuldade de concentração e atenção, assim como de raciocínio mais elaborado.
Conclusão
Vimos que viciados em bebida, apesar de terem comportamentos parecidos, possuem perfis de alcoólatras diferentes muitas vezes.
No fundo, são pessoas comuns que fazem parte do nosso cotidiano.
Além da influência familiar e social que vendem a imagem do álcool como algo benéfico e muitas vezes necessário.
Os alcoólatras são pessoas que necessitam de ajuda, por isso coloco os serviços Grupo Recanto a disposição, somos referência no tratamento de dependência química no norte-nordeste.
Sendo essa uma doença séria e perigosa, num primeiro sinal de alcoolismo é importante buscar ajuda.
Fabrício Selbman é Diretor do Grupo Recanto, rede de três clínicas de tratamento de dependentes químicos referência no Norte e Nordeste nesse segmento, e também é:
- Formado em marketing e pós-graduado em gestão empresarial;
- Especialista em Dependência Química pela UNIFESP. Especialização na Europa sobre o modelo de tratamento Terapia Racional Emotiva (TRE);
- Psicanalista pela Associação Brasileira de Estudos Psicanalíticos do Estado de Pernambuco (ABEPE);
- Professor de Especialização na Associação Brasileira de Estudos Psicanalíticos do Estado de Pernambuco (ABEPE);
- Diretor do Grupo Recanto, rede de três clínicas de tratamento de dependentes químicos referência no Norte e Nordeste nesse segmento.