Para poder entender a abstinência alcoólica, é preciso primeiro entender o conceito do alcoolismo e da dependência, a dependência química é considerada uma doença crônica pela Organização mundial de saúde (OMS) caracterizada como um transtorno mental com sintomas e sinais associados ao uso de drogas
Sinais como a tolerância do corpo a droga, que cada vez mais é necessária mais quantidade para atingir o efeito procurado, a compulsão que seria o ato de consumir cada vez mais da substância e de maneira desenfreada, sempre precisando de mais, assim como a abstinência que são sintomas e sinais que aparecem quando há um afastamento da substância.
O alcoolismo é uma condição e doença onde a pessoa se encontra dependente do álcool, se configurando pelo uso do álcool de forma constante, de maneira descontrolada e que aumenta progressivamente, essa pessoa é chamada de alcoolista e por causa da dependência tende a causar prejuízo para sua vida e para de outros como colegas, amigos e familiares.
Portanto a abstinência alcoólica é apenas um dos estados da doença complexa que é o alcoolismo, nesse texto explicarei em detalhes o porquê acontece a abstinência alcoólica e o que ela é, bem como seus principais sintomas e como tratar.
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O que é abstinência alcoólica?
Também chamada de síndrome de abstinência alcoólica é definida como o conjunto de sintomas gerados pela retirada repentina do álcool para pessoas que fazem um uso abusivo da substância, fazendo com que o corpo demonstre sinais dessa falta.
Os sintomas e sinais demonstrados dependente de organismo para organismo, pois cada organismo é diferente e reage de formas diferentes, outra coisa que interfere é o tempo de uso.
Sendo comum o aparecimento de crises de abstinência, que são momentos em que os sintomas da abstinência são potencializados e acontecem quando se tenta interromper o uso do álcool.
Como o álcool age no organismo?
O álcool faz com que a pessoa se torne dependente porque atinge neurotransmissores que ficam ligados e acionados toda vez que você ingere o álcool.
Ao ingerir o álcool há uma clara sensação de euforia que acaba dando um impulso para que haja um maior consumo, com uma maior ingestão receptores específicos são ativados e outros não, um deles vai impedir que o efeito eufórico continue e iniciar a segunda fase do efeito alcoólico, levando a uma sensação de sedação, relaxamento, perde de controle da coordenação e humor depressivo.
Quanto maior o número de vezes que se consome e principalmente se for de maneira constante, o corpo vai entender que precisa captar e recolher mais dessa substância e vai regular o número e função de dos receptores no cérebro, aumentando aqueles que receptam as substâncias alcoólicas e mudando a função de alguns para que também façam isso.
Ocorre aumento principalmente nos receptores que incentivam ao comportamento depressivo e diminuição dos que liberavam euforia com o passar do tempo e uso abusivo do álcool, fazendo que ao se afastar do álcool fique em estado de excitação.
Esse efeito ligado ao fato de que o sistema de busca e recompensa do cérebro está totalmente associado ao álcool, leva a acontecer o estado de “fissura” que é uma forte compulsão de consumir a bebida alcoólica ou outras fontes de consumo de álcool.


Por que ocorre a abstinência alcoólica?
A abstinência ocorre quando o paciente comumente faz uso abusivo e de forma compulsória e tenta interromper esse uso, com isso o corpo que estava acostumado a absorver e captar quantidades absurdas dessas substâncias, agirá da forma que precisar para suprir a falta dessas substâncias no organismo.
Assim o corpo começa a manifestar um conjunto de sintomas e sinais específicos, derivados da suspensão abrupta do álcool e que começam a aparecer para que o corpo volte a ter o consumo da substância.
Essa síndrome é derivada da tentativa de adaptação neurológica do cérebro do paciente, que foi condicionado ao uso do álcool, a agora ficar fora da influência do mesmo, pois possuímos um sistema no cérebro chamado de sistema de recompensa que regula nosso incentivo, interesse, prazer e saciedade nas coisas em que fazemos e experienciamos.
Esse sistema funciona de forma organizada de acordo com cada organismo, os neurotransmissores do prazer atuam aqui, o álcool interfere nesse equilíbrio natural, alterando sua quantidade e seu estado, assim como alterando seus receptores para comportar a quantidade entregue.
O sistema fica assim adaptado para as altas doses de álcool, então uma vez que é suspenso o seu uso, o corpo começa a gerar uma irritação psíquica e física, para ter novamente os efeitos da substância no corpo, além de que o álcool é muitas vezes usado para suprir a crise de abstinência quando ela acontece, deixando assim o corpo ainda mais sensível.
Assim pela retirada do álcool o sistema nervoso fica muito estimulado e começa a gerar os sintomas e sinais típicos da abstinência, como uma tentativa do corpo se readaptar.
Quais são os principais sintomas da abstinência alcoólica?
Os sintomas da abstinência alcoólica de cada pessoa variam de acordo com sua intensidade, essa variação ocorre de acordo com alguns fatores como herança genética, idade, tempo e frequência de uso e possíveis comorbidades.
Os sintomas podem viver de forma mais branda até a forma incapacitante ou letal, esses sintomas começam assim que o nível de álcool no sangue diminui, ou seja é muito comum após um descanso ou quando acorda pela manhã.
Em termos gerais os sintomas e sinais da abstinência duram em média 5 dias, podendo variar de acordo com os aspectos já citados anteriormente, o segundo dia geralmente é o dia em que os sintomas estão mais agudos, isto é, mais fortes.
Os sintomas podem retornar após um tempo, pois a crise de abstinência pode durar de 4 até 6 semanas, sendo a duração dos sintomas menor, porque se alternam, o que a pessoa sente hoje pode não ser igual ao que sente amanhã.
Ansiedade
Não é surpresa para ninguém que a ansiedade quando em excesso desencadeiam transtornos ansiosos, mas muitos não imaginam a relação do álcool com a ansiedade e é isso que relatarei aqui.
O uso excessivo de álcool pode gerar transtornos de ansiedade, pois esse uso excessivo desregula as substâncias e áreas responsáveis pela liberação dessas substâncias responsáveis pelo controle emocional, deixando mais vulnerável para qualquer descontrole de modo emocional.
Podendo gerar crises de ansiedade, que causam alterações no humor, irritabilidade, dificuldade de concentração, dificuldade em manter compromissos, alterações de peso, suor pelo corpo e tremores nas extremidades (mãos e pés), esgotamento físico e mental, aceleração dos batimentos cardíacos, entre outros.
Depressão
O álcool pode ser tanto o desencadeador da depressão como pode aumentar a intensidade dos sintomas de quem já a possuía anteriormente e buscou o álcool como um refúgio, esse tipo de transtorno é facilmente desencadeado pelo próprio álcool ser uma droga depressora.
O uso de álcool mesmo que moderado pode desencadear sintomas depressivos que podem evoluir para um transtorno depressivo, contudo aqueles que fazem um maior uso ou abusam da substância possuem maior chance de desenvolver.
O álcool é um depressor natural do sistema nervoso central e age em diversos neurotransmissores como GABA, noradrenalina, glutamato, agindo de forma sedativa, quanto maior a frequência do uso e intensidade das doses maior será esse efeito.
A maioria das pessoas já possuem uma predisposição genética para a depressão e o uso do álcool aflora essa herança genética, também é comum que as pessoas já tenham um nível mínimo da doença antes de se envolverem com o álcool, e o álcool acelerou o desenvolvimento, porém o contrário não é necessariamente verdade, não há comprovação que a depressão incentive a ingestão de álcool.
Oscilações de humor
As oscilações de humor podem ser resultantes de transtornos mentais associados a condição alcoólica, como a ansiedade e a depressão já citados aqui, como também resultante dos efeitos próprios do álcool.
O álcool atua em duas etapas, uma primeira mais estimulante e eufórica e a segunda mais relaxante e depressora do sistema nervoso central, alterando a química e a organização dos neurotransmissores cerebrais.
Neurotransmissores que quando ficam sem acesso ao álcool, produzem estresse, irritabilidade, mau humor, o que causam uma alternância.
Fadiga
A fadiga é um reflexo físico da falta de álcool no corpo, uma vez que ele altera o sistema de recompensa e o corpo passa a agir em torno da substância, logo o hormônio do prazer e bem-estar está atrelado ao álcool.
De forma que quando fica sem o álcool, o corpo tende a ficar mais irritado e estressado, assim como mais cansado, pois o corpo se movia em função disso, acontece também uma fadiga mental.
O álcool afeta sua aptidão cognitiva e por ser uma droga depressora, gera sonolência e relaxamento mental e físico, tornando esse o novo equilíbrio cerebral, e quando fica sem a substância a mente fica pesada e confusa gerando fadiga mental e física.
Sem a droga o corpo utiliza-se das reservas de serotonina no corpo, fazendo com que a pessoa fica de modo desestimulado e um pouco deprimido, podendo também contribuir para a sensação de cansaço.
Dor de cabeça
Por motivos semelhantes a fadiga, a dor de cabeça acontece, a falta da substância e seus derivados que quando captados pelos neurotransmissores vão liberando vários tipos de sensações, ativam as áreas, causando certa irritação mental, podendo vir acompanhada de sensação confusão mental e dificuldade de raciocínio.
Além de que o álcool afeta a concentração de açúcar no sangue, diminuindo essa concentração, mesmo após um tempo do consumo a sensação pode permanecer.
Agitação
Durante a falta de administração do álcool para o consumo pode ocorrer que a adrenalina que era distribuída de forma desordenada enquanto fazia o uso do álcool seja ativada.
Essa adrenalina que estava espalhada pelo corpo pode gerar um comportamento mais ativo e violento, assim como uma sensação de agitação pelo corpo.


Como é feito o diagnóstico da abstinência alcoólica?
O diagnóstico da síndrome de abstinência pode ser feito por médicos clínicos gerais e psiquiatras, psicólogos e neurologistas, assim ao ir ao médico ele realizará uma série de perguntas através de uma entrevista chamada anamnese, assim como os devidos exames físicos.
O histórico médico e os resultados dos exames físicos, a pessoa encarregada deverá ficar atenta para as possíveis outras doenças que o paciente pode vir a ter ou já apresenta no momento.
Comumente também é realizado exames de sangue e de urina para se determinar os níveis de álcool no corpo, bem como ver as taxas do sangue para ter uma ideia geral da saúde da pessoa.
Reunindo todas essas informações o profissional encarregado realizará o diagnóstico, sendo sempre indicado uma investigação complementar e monitoramento médico.
Como lidar com abstinência alcoólica durante o tratamento?
A abstinência pode ser contida de diversas formas durante o tratamento, essas formas dependem do tipo de tratamento que está em curso.
Uma opção já não tão utilizada é o uso de medicamentos específicos para reduzir os efeitos da abstinência de drogas especificas, no caso do álcool os mais usados são o olcadil, o apraz, o frontal e a carbamazepina.
O uso de terapia aliado a uma dieta e exercícios físicos podem ajudar a balancear novamente o equilíbrio psíquico e biológico, a terapia ainda ajudara o paciente a entender o que acontece com ele e por quê.
Num tratamento por internação é possível que seja feita uma combinação de todos esses tipos e modelos de tratamentos, possuindo um maior suporte com relação a saúde e bem-estar do paciente.
Como prevenir possíveis crises de abstinência?
A forma mais óbvia que seria o afastamento da bebida alcoólica, acaba sendo a mais eficiente, pois se você não estiver em contato com a substância e seu corpo já estiver desintoxicado, não haverá como seu corpo sentir os efeitos da abstinência.
É importante obter o aconselhamento médico para lhe ajudar nesse momento, como também procurar o apoio psicológico para se manter alheio a ideia de voltara a consumir, assim como fortalecer as suas novas crenças que guiam sua vida.
Vale também lhe dizer que é preciso tomar alguns cuidados, que discutirei com você adiante, porém já ressalto que o ideal é que tome todos eles, claro que diante de sua possibilidade.
Evite locais onde há consumo de bebidas alcoólicas
Evitar esses locais onde facilmente é associado com o consumo de bebidas alcoólicas, onde muitas vezes o consumo era feito de forma social e com amigos e colegas, serve para que essas lembranças não venham a aparecer novamente na mente e lhe tentar.
Quanto mais afastado ficar desses lugares e locais, mas centrado em sua manutenção vocês ficará, se algum desses locais representa algo além disso para você, deixe para visitá-lo depois, quando já estiver mais seguro e experiente nessa nova vida.
Pratique exercícios físicos
A prática de exercícios físicos regulares pode ajudar de diversas formas, seja como musculação, yoga ou na prática de esportes, os exercícios além de lhe dar uma nova ocupação liberam dopamina no organismo, coisa que antes estava condicionada ao uso alcoólico.
Assim ajudando a regularizar novamente os neurotransmissores, bem como ajudando a melhorar sua condição corporal que normalmente em quadros de alcoolismo não está no ideal, além de ser benéfica para pessoas com comorbidades como pressão alta, diabetes, ansiedade, depressão.
Tenha uma alimentação saudável
Uma boa alimentação pode ajudar bastante não só em sua manutenção contra o consumo alcoólico, bem como melhorando sua saúde geral e diminuindo a predisposição a outras doenças.
As pessoas dependentes do álcool quando na ativa dificilmente possuíam uma boa alimentação, primeiramente não ingeriam muitos alimentos e aqueles ingeridos não eram absorvidos apropriadamente por conta do efeito alcoólico no intestino e no fígado.
É comum o caso de desnutrição proteica, deficiência de magnésio e zinco, assim como deficiência de vitaminas A, C, D e complexo B.
Assim uma boa alimentação irá suprir esse déficit que ficou em seu corpo pelo tempo em que consumia o álcool, assim como regular as taxas químicas do corpo e produzir melhores efeitos, assim como promover a sua saúde geral.
Esteja comprometido com o tratamento
Para isso tudo dar certo é preciso muito comprometimento e determinação, pois precisará de mais do que apenas sua força de vontade para melhorar e se manter nesse estado sem entrar em recaídas.
E para isso é importante suporte médico e psicológico para que se mantenha focado e confiante no processo, grupos de apoio como os Alcoólicos anônimos (A.A) podem dar um grande suporte, principalmente pelo programa dos doze passos.
Abstinência alcoólica: como uma clínica de reabilitação pode auxiliar o dependente durante as crises?
Nas clínicas de reabilitação é muito mais fácil obter o controle e amenizar os sintomas de abstinência, já que não há influência externa o convidando para voltar ao seu vício e a pessoa se concentra somente em sua recuperação e conta com o suporte de uma equipe multiprofissional.
Aqui na clínica do Grupo Recanto contamos com o suporte de médicos, psicólogos, terapeutas ocupacionais, educadores físicos, nutricionistas, consultores e monitores em dependência química, enfermeiros entre outros.
Assim com essa equipe e um médico disponível 24 horas, o paciente estará respaldado e auxiliado de todas as formas citadas nos tópicos anteriores, tendo suporte médico e psicológico, tendo uma rotina que comtempla lazer, exercícios físicos e uma boa alimentação.
Além de tudo isso através do nosso projeto terapêutico será possível deixar de lado as antigas crenças e atitudes que levaram a dependências e aprender novas, para a nova vida que vem depois do tratamento.
Conclusão
O objetivo desse a artigo foi justamente explicar o que é a abstinência alcoólica e como ela atinge a cada pessoas, seus sintomas e como lidar ou evitar eles.
Então, acredito que consegui demonstrar num passo a passo boa parte da extensão desse problema e porque ele acontece, no brasil chega a ser um hábito cultural o ato de beber álcool e introduzir alguém nele, tanto que muitas famílias permitem que seus filhos o conheçam bem cedo e alguns até incentivam.
Afinal, agora que está ciente de alguns dos vários riscos que essa droga pode trazer, acredito que buscará ajudar a si mesmo e a outros que conhecem, e isso não é só em caso de dependência, a OMS já alerta para prejuízos visíveis em pequenas doses e uso social, e ela não recomenda o consumo de álcool em nenhum nível.
Agradeço por sua companhia e por ter investido seu tempo para adquirir conhecimento sobre a dependência química, até a próxima!


Fabrício Selbman é Diretor do Grupo Recanto, rede de três clínicas de tratamento de dependentes químicos referência no Norte e Nordeste nesse segmento, e também é:
- Formado em marketing e pós-graduado em gestão empresarial;
- Especialista em Dependência Química pela UNIFESP. Especialização na Europa sobre o modelo de tratamento Terapia Racional Emotiva (TRE);
- Psicanalista pela Associação Brasileira de Estudos Psicanalíticos do Estado de Pernambuco (ABEPE);
- Professor de Especialização na Associação Brasileira de Estudos Psicanalíticos do Estado de Pernambuco (ABEPE);
- Diretor do Grupo Recanto, rede de três clínicas de tratamento de dependentes químicos referência no Norte e Nordeste nesse segmento.