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Automutilação: O que é, como identificar e tratamentos
Publicado em: 11 de maio de 2022

Atualizado em: 04 de agosto de 2023

Automutilação: O que é, como identificar e tratamentos

Cada dia parece ser mais comum ver histórias de pessoas que se automutilam.

Para muitos, aparentemente essas pessoas têm tudo para “estar bem”. 

Ora a automutilação não é seletiva, atinge todas as faixas etárias e tipos sociais!

Porém é mais comum em na adolescência e transição para fase adulta, assim como nos idosos, esse último caso se deve em maior parte à pacientes em estado terminal ou com doenças incapacitantes.

No Brasil em 2017 foram notificados 13 443 casos de autolesões entre jovens de 15 a 19 anos, já em 2018 foram 886 mortes decorrentes de automutilações, segundo o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos e o DATASUS.

O que é automutilação?

A automutilação é o comportamento de infringir danos e dor a seu próprio corpo, podendo ser de maneira superficial ou não, podendo ter intenção suicida ou não.

As primeiras experiências de automutilação costumam não ter intenções suicidas e serem danos mais superficiais. Um dos principais motivos para essa ação é dar forma a uma dor emocional e psicológica, assim como tentar usar essa dor da lesão para esquecer da outra.

Os propósitos para a automutilação quase sempre vem de causas não aceitas ou não bem-vistas socialmente. Elas acontecem como cortes, contusões, arranhões, perfurações na maior parte das vezes.

Tipos de automutilação

Tipos de automutilação

  As automutilações costumam variar de acordo com sua motivação e seu tipo de intenção, para uns pode servir a um propósito de apenas atenuar sua dor interna, já para outros pode fazer parte de um ritual de morte para si mesmo.

Diferente de outros sintomas a automutilação costuma deixar marcas visíveis e por isso é importante prestar atenção em como cada pessoa se veste e se comporta para notar possíveis mudanças.

– Automutilação com intenção suicida

A automutilação que possui uma ideação suicida costuma ser mais pontual e não tão frequente como a automutilação sem a intenção suicida, assim como as lesões são mais profundas e danosas, pois procuram a morte.

Podendo ocorrer o uso de venenos, objetos asfixiantes, colisões intencionais e objetos cortantes e perfurantes; assim é menos provável que a automutilação ocorra por um tempo prolongado.

– Automutilação sem intenção suicida

Esse tipo de automutilação tende a começar no início da adolescência e pode persistir até a vida adulta, de modo que procuram fazer em áreas que geralmente ficam encobertas pelas roupas e podem variar os tipos de lesões numa mesma sessão.

Por exemplo, em uma mesma sessão de automutilação a pessoa pode se queimar com cigarros, fazer cortes no ombro e arrancar brutalmente seus pelos corporais.

Com o tempo a pessoa passa a se tornar mais agressiva e tende a descontar mais emoções e situações ruins em si mesma, embora possa não haver pretensão de morte, a automutilação não deve ser ignorada, ela pode ser um sinal ou sintoma de um outro problema como transtornos mentais. 

Quais os principais motivos que levam uma pessoa a se mutilar?

O motivo do que leva cada pessoa a automutilação é muito individual e íntimo, posso dizer que cada uma vai ter um motivo diferente ou ainda que parecido o contexto pode ser outro.

Então é impossível determinar motivos e causas para a automutilação? Não, existem situações e condições facilitadoras que possuem estatisticamente uma correlação com o ato da automutilação.

Para entender quais são e aprender mais sobre elas, siga abaixo:

– Distúrbios psiquiátricos

É comum que alguns portadores de transtornos psiquiátricos manifestem o ato da automutilação, transtornos como depressão, borderline, personalidade antissocial e dependência química estão entre os mais associados.

A automutilação na depressão frequentemente vem da forte dor emocional e do sentimento de incapacidade diante de situações cotidianas, já os borderline costumam buscar desesperadamente pelo afeto de outra pessoa e são instáveis de humor, em casos de abandono ou de descontrole podem se automutilar como tormento.

A pessoa com transtorno de personalidade antissocial pode recorrer à autolesão como forma de encontrar prazer ou aplacar sua agressividade e impulsividade.

  Na questão da dependência química, a automutilação pode surgir como um dos sintomas desse transtorno a depender da droga utilizada, do tempo de uso e forma.

– Alívio e controle das emoções

automutilação para controlar as emoções

É comum também que pessoas que não possuem necessariamente um diagnóstico de transtorno ou de alguma outra doença, traumas e acontecimentos marcantes emocionalmente também podem ser um fator desencadeante.

A automutilação vem como uma ferramenta de escape da realidade e da dor emocional que a pessoa possa estar sentindo, vem principalmente como forma de alívio para essa emoção.

Há ainda quem use o fenômeno da automutilação como uma tentativa de supressão e controle emocional, como por exemplo:

Se dar apertões para segurar a tristeza, enrolar e puxar o cabelo (tricotilomania) para controlar ansiedade, se cortar para controle de raiva e agressividade.

– Fatores de risco

Algumas situações e/ou condições em que a pessoa se encontra a colocam em risco, por conta disso possuem uma taxa maior de desenvolvimento de outros sintomas e doenças.

Portanto fatores de risco e comorbidades para a automutilação são: Dependência química, histórico de automutilação e suicídio na família, transtornos mentais, doenças incapacitantes, histórico de abuso sexual, físico e psicológico, bullying.

Outra questão é a automutilação por contágio, que se refere a quando um grupo de pessoas ou um indivíduo é exposto a prática de automutilação de outra pessoa e passa a praticar a automutilação.

Como identificar a automutilação?

causas da automutilação

Alguém que está passando por uma fase de automutilação demonstrará alterações comportamentais comparada a quando não estava praticando, isolamento social e passar a ter preferência por roupas compridas são bons exemplos.

As roupas compridas servem para esconder as mutilações feitas, se isola socialmente para não ser notado ou criticado, passa a se tornar mais impulsivo e agressivo, pode ter problemas alimentares e de sono, assim como ser severo consigo mesmo.

– Automutilação em crianças

A automutilação na infância tem se tornado mais comum, sendo associada a fenômenos como o bullying e a alta pressão que é colocada sobre as crianças desde cedo.

Na fase de transição da infância para a adolescência, muitas crianças procuram usar seu corpo para se expressar, a criança pode realizar também em busca do reconhecimento de sua dor, por sentir que não está sendo validada.

É uma fase cheia de transformações, que devido a chegada da puberdade se intensifica ainda mais, causando sofrimento psíquico, algumas crianças buscam na mutilação uma forma de diminuir esse sofrimento.

– Automutilação em adolescente e adultos

automutilação em adolescentes e adultos

A fase mais comum das automutilações é sim na adolescência, podendo chegar a fase adulta se o motivo das mutilações não for resolvido ou se não for tratado adequadamente.

Em adolescentes as principais causas são as relações familiares e de amizade, assim como a descoberta do seu eu, questões como sexualidade, gênero, lugar no mundo e orientação profissional podem ser grandes fontes de angústia e estresse.

Porém como muitos adolescentes ainda estão entendendo como funciona o mundo, tentam racionalizar certas emoções e sensações, para isso realizam os cortes, queimaduras e perfurações, para justificar e compreender a dor que não é física.

Papel dos profissionais de saúde mental

Os profissionais de saúde mental desempenham um papel crucial no apoio e tratamento das pessoas que se automutilam. Aqui estão algumas maneiras pelas quais esses profissionais podem ajudar:

Avaliação e diagnóstico: Os profissionais de saúde mental são treinados para avaliar adequadamente a automutilação, identificar os fatores subjacentes e diagnosticar condições de saúde mental associadas, como depressão, transtorno de personalidade borderline, transtornos alimentares ou ansiedade. Uma avaliação completa é importante para entender a situação do indivíduo e desenvolver um plano de tratamento adequado.

Terapia individual: A terapia individual é uma abordagem comum para ajudar pessoas que se automutilam. Os profissionais de saúde mental podem utilizar diferentes modalidades terapêuticas, como a terapia cognitivo-comportamental (TCC), a terapia dialética comportamental (TDC) ou a terapia de esquemas, dependendo das necessidades individuais do paciente. O objetivo é ajudar o indivíduo a desenvolver estratégias saudáveis de enfrentamento, melhorar a regulação emocional, trabalhar na autoestima e resolver problemas subjacentes.

Terapia de grupo: A terapia de grupo pode ser benéfica para pessoas que se automutilam, pois permite que elas se conectem com outras pessoas que compartilham de experiências semelhantes. Isso pode fornecer um senso de apoio, compreensão e pertencimento, além de ajudar na construção de habilidades sociais e no aprendizado de estratégias de enfrentamento mais saudáveis.

Educação e informação: Os profissionais de saúde mental desempenham um papel importante na educação dos indivíduos que se automutilam, fornecendo informações precisas sobre a automutilação, seus fatores de risco, suas consequências e os recursos disponíveis para ajudar. Isso ajuda a desmistificar a automutilação e a reduzir o estigma associado a ela.

Desenvolvimento de um plano de segurança: É essencial que os profissionais de saúde mental ajudem as pessoas que se automutilam a desenvolver um plano de segurança para lidar com momentos de crise. Isso pode incluir estratégias de enfrentamento alternativas, redes de apoio social, números de emergência e outras medidas para garantir a segurança da pessoa em momentos difíceis.

Colaboração com outros profissionais de saúde: Em alguns casos, a automutilação pode exigir uma abordagem multidisciplinar, envolvendo profissionais de saúde mental, médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde. Os profissionais de saúde mental podem coordenar e colaborar com esses outros profissionais para fornecer um cuidado abrangente e integrado.

Monitoramento e acompanhamento: Os profissionais de saúde mental devem acompanhar de perto o progresso do indivíduo que se automutila, ajustando o plano de tratamento, fornecendo apoio contínuo e monitorando quaisquer sinais de recaída. O acompanhamento regular é fundamental para garantir a segurança e o bem-estar a longo prazo.

Automutilação: Conheça o tratamento adequado

Ainda há uma discussão sobre se a automutilação é uma doença ou se apenas um sintoma de outras doenças e outros transtornos que ainda não foram descobertos em cada pessoa.

Um fato é que precisa de tratamento e o melhor apoio para isso é a busca por psicoterapia, para que possa ser tratado na raiz do problema, aquilo que aflige cada pessoal profundamente para que cometa esse ato.

Pode ser necessário em alguns casos também o uso de medicações, apenas no caso de outros transtornos presentes, logo controlar o transtorno também é controlar o hábito da automutilação.

Terapia de grupo e intervenções farmacológicas

Quando falamos de automutilação é importante entendermos que essa atitude é tomada por diversas pessoas que estão em sofrimento psíquico, e quando pensamos em formas de tratá-la, terapias de grupo são fundamentais uma vez que o sujeito que se automutila está geralmente passando por um momento de baixa autoestima, depressão, que um grupo pode acolhê-lo fazendo se sentir útil ao ter uma função neste grupo, além de poder se comunicar.

Além disso, há as intervenções farmacológicas, onde os indivíduos que tomam essas atitudes estão passando por distúrbios psíquicos que muitas vezes precisam de medicamentos para que suas angústias e ansiedades não a façam cometer o ato de machucar a si próprio.

Consequências físicas e psicológicas

A automutilação pode ter várias consequências físicas e psicológicas para a pessoa que se envolve nesse comportamento. Aqui estão algumas das principais consequências associadas à automutilação:

Consequências físicas:

  • Cicatrizes e marcas visíveis: A automutilação pode deixar cicatrizes, cortes, queimaduras ou outras marcas físicas visíveis no corpo. Essas marcas podem ter um impacto duradouro na autoimagem e autoestima da pessoa.
  • Infecções e complicações: A automutilação pode aumentar o risco de infecções, especialmente se instrumentos não estéreis forem utilizados. Além disso, as lesões repetidas podem levar a complicações médicas, como danos nos nervos, perda de sensibilidade ou problemas de cicatrização.
  • Lesões graves e risco de danos permanentes: Em alguns casos, a automutilação pode levar a lesões graves ou até mesmo ameaçar a vida da pessoa. Cortes profundos, queimaduras graves ou outros atos autolesivos extremos podem resultar em danos permanentes ao corpo.

Consequências psicológicas:

  • Alívio temporário da dor emocional: A automutilação pode proporcionar um alívio temporário da dor emocional ou angústia intensa que a pessoa está enfrentando. No entanto, esse alívio é passageiro e, a longo prazo, a automutilação pode contribuir para um ciclo de sofrimento emocional contínuo.
  • Sentimentos de culpa e vergonha: Muitas pessoas que se automutilam experimentam sentimentos intensos de culpa, vergonha e autoaversão após o ato. Esses sentimentos podem agravar a dor emocional já existente e dificultar a busca de ajuda.
  • Isolamento social e dificuldades nos relacionamentos: A automutilação pode levar a um isolamento social significativo. As pessoas podem se sentir envergonhadas de suas cicatrizes ou têm medo de serem julgadas ou rejeitadas pelos outros. Isso pode resultar em dificuldades nos relacionamentos interpessoais e sentimentos de solidão.
  • Agravamento dos problemas de saúde mental subjacentes: A automutilação está frequentemente associada a problemas de saúde mental subjacentes, como depressão, transtorno de personalidade borderline, ansiedade, entre outros. A automutilação pode agravar esses problemas e tornar o processo de recuperação mais desafiador.
  • Dependência e comportamento compulsivo: Em alguns casos, a automutilação pode se tornar um comportamento compulsivo, no qual a pessoa sente uma necessidade cada vez maior de se automutilar para lidar com a dor emocional. Isso pode levar a um ciclo vicioso difícil de quebrar.


Conclusão

Apesar de não ser uma prática incomum, principalmente entre os mais jovens, a questão da automutilação ainda é pouco discutida entre a população geral, mesmo sendo um sinal claro de que algo está errado.

Não só pode estar associada a transtornos mentais e dependência química como a ao risco de suicídio, logo é um importante fator tratar assim que for identificada até como forma de prevenção para os outros transtornos e doenças.

Logo, é importantíssimo ter a atenção redobrada para seus filhos, irmãos e irmãs ou amigos que estão na fase da infância e adolescência para que não iniciem também nessa prática.

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