O tratamento com ibogaína tem ganhado cada vez mais atenção, tanto no meio popular quanto em sua aplicação prática. No entanto, é importante destacar algumas precauções em relação ao uso dessa substância, que serão abordadas posteriormente.
A ibogaína é um composto extraído de uma planta africana conhecida como iboga, um arbusto encontrado principalmente na região central da África, em países como Camarões, Congo e Angola.
Neste artigo, exploraremos como a ibogaína funciona no organismo e seus efeitos, a confiabilidade dos tratamentos baseados nessa substância, as regulamentações legais sobre seu uso, as situações em que é permitida, suas controvérsias e o processo que levou a esse cenário.

O que é ibogaína?

A ibogaína é extraída de uma planta do centro da África, conhecida como iboga, e tem um histórico de uso em rituais pré-históricos devido aos seus efeitos alucinógenos. Recentemente, ela ganhou destaque por seu potencial em neutralizar e revitalizar a ação de outros alcaloides e compostos nitrogenados que atuam no cérebro, ajudando a anular os efeitos de outras drogas.
Uma pesquisa brasileira da UNIFESP, conduzida por quatro profissionais de diferentes áreas — o médico Bruno Rasmussen Chaves, o neurocientista Eduardo Schenberg, a psicóloga Maria Angélica Comis e o psiquiatra Dartiu Xavier —, realizou experimentos clínicos entre 2005 e 2013, a anos atrás. Esses estudos indicaram que a ibogaína pode interromper a dependência de cocaína, crack e outras drogas em 72% dos casos.
No entanto, não existem evidências científicas robustas que comprovem a eficácia da substância, inclusive, não sendo regulamentado pela ANVISA qualquer tratamento a partir dela, sendo proibida sua comercialização. Ela apresenta diversos efeitos adversos no corpo. A ibogaína interage diretamente com os neurotransmissores cerebrais, e nos últimos anos, houve um aumento nos relatos de riscos à vida e casos de morte súbita associados ao seu uso.
Para que serve a ibogaína?
É importante destacar que as utilidades mencionadas a seguir ainda não possuem comprovação científica, e muitos estudos clínicos estão em andamento para entender melhor os efeitos adversos que podem ocorrer.
Alguns médicos podem recomendar a ibogaína para aliviar os sintomas de abstinência e dependência de drogas como cocaína, crack, heroína, e morfina, além de, supostamente, ajudar a eliminar a fissura causada por essas substâncias.
Historicamente, a ibogaína também tem sido utilizada para reduzir fadiga e cansaço, aliviar febre, dores de estômago, combater a impotência sexual e até mesmo tratar a AIDS. No entanto, a maioria desses efeitos alegados carece de evidências concretas sobre sua eficácia e o mecanismo de ação, além de não haver informações claras sobre a dosagem adequada para esses casos.
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Como é feito o tratamento com ibogaína?

Sob supervisão médica adequada, a ibogaína é utilizada como medicamento auxiliar na desintoxicação de dependentes químicos. Geralmente administrada em forma de chá, a substância tem como finalidade reduzir a fissura — o desejo incontrolável que os dependentes sentem pela droga — além de aliviar outros possíveis sintomas de abstinência.
O tratamento pode ser combinado com outros medicamentos, se necessário, mas geralmente é realizado apenas com a administração do chá ou outras formas de consumo da substância, sempre sob acompanhamento médico, sendo estritamente necessário que o tratamento seja conduzido por profissionais de saúde.
O tratamento com ibogaína é utilizado para quais dependências?
A ibogaína é mais utilizada no combate a drogas que contêm substâncias alcaloides, como cocaína, crack e seus derivados, além de morfina, heroína, ácido lisérgico (LSD), mescalina, entre outros. Existem também relatos de seu uso para combater o vício em maconha, mas, além de carecer de comprovação científica, não há estudos que sustentem seu uso para esse tipo de droga.
É importante destacar que o governo federal não aprova o uso da ibogaína em tratamentos para dependência química, devido aos seus efeitos colaterais e ao limitado número de estudos disponíveis, que, embora relevantes, ainda são insuficientes para justificar seu uso.
Mais estudos clínicos controlados e evidências científicas adicionais são necessários para que a ibogaína seja reconhecida como uma opção terapêutica. Além disso, é preciso investigar mais sobre seus efeitos colaterais, que podem ser graves, incluindo morte súbita.
A ANVISA também não regulamenta a comercialização da ibogaína como medicamento, e qualquer tentativa de fazê-lo pode resultar em denúncia.

Quais são os efeitos da ibogaína no organismo de um dependente químico?
A ibogaína, como já mencionado, é uma planta alucinógena, e ao consumir seu chá ou ingeri-la em seu estado natural, podem ocorrer sensações como a impressão de estar saindo do próprio corpo, alucinações visuais e auditivas, além de potencialmente desencadear quadros graves de transtornos mentais.
Muitos relatam que o estado induzido por essa planta é semelhante a um sonho, permitindo revisitar a própria vida ou encontrar espíritos, similar aos relatos associados ao uso de ayahuasca. Acredita-se que a planta possa ajudar a regularizar a produção de serotonina e dopamina, que normalmente ficam alteradas pelo consumo de drogas.
Os efeitos adversos ou colaterais podem incluir arritmias cardíacas (batimentos desorganizados), risco de parada cardíaca, ataxia (problemas de coordenação motora), estados alterados de consciência (alucinações), problemas no sistema gastrointestinal, náuseas e vômitos, pequenos tremores, crises epilépticas e até morte súbita.
O tratamento com ibogaína é seguro?
Vamos recapitular: estamos discutindo uma substância cujos efeitos carecem de comprovação científica robusta e que apresenta riscos significativos à saúde. A ibogaína é administrada sem conhecimento preciso sobre a dosagem adequada e não é regulamentada pela ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Optar por esse tratamento implica assumir um risco considerável.
Embora alguns afirmem que seu uso é seguro, não há garantias ou respaldo legal para tal afirmação. Nenhum órgão público que regula essa questão autoriza seu uso, e médicos que prescrevem ibogaína podem enfrentar ações judiciais.
Além do debate sobre sua eficácia real, há também a questão de sua viabilidade, já que a substância pode provocar vários efeitos adversos e prejudiciais ao organismo. Com a única certeza sendo seu poder alucinógeno e suas reações adversas, não parece ser o tratamento mais adequado para quem realmente busca uma solução eficaz para a dependência.

Quais são os outros métodos de tratamento para dependência química?
Existem diversos métodos com respaldo científico para o tratamento da dependência química, que têm mostrado resultados positivos na recuperação de indivíduos. O primeiro passo é a desintoxicação, que envolve a redução gradual ou a interrupção total da substância que causa dependência, sempre sob a supervisão de uma equipe médica ou multiprofissional.
Após a desintoxicação, é recomendado iniciar outros tipos de tratamento, como a psicoterapia, que aborda as questões e circunstâncias que levaram à dependência, ajudando o paciente a entender e aceitar sua condição.
Os tratamentos com medicamentos são utilizados como complemento para aliviar sintomas de abstinência e tratar problemas de saúde física e mental, conforme as necessidades específicas de cada paciente. Grupos de ajuda mútua, como Alcoólicos Anônimos (AA) e Narcóticos Anônimos (NA), oferecem suporte através do programa dos doze passos, permitindo o compartilhamento de experiências e demonstrando ao paciente que ele não está sozinho.
Internações em clínicas de recuperação têm o objetivo de tratar o paciente de forma abrangente, abordando aspectos biológicos, psicológicos e sociais, com o apoio de uma equipe multiprofissional. Essas clínicas mantêm o paciente distante da substância, proporcionando um ambiente seguro para a recuperação. Esses métodos oferecem um caminho estruturado e comprovado para a superação da dependência química.
A Recanto Clínica Hospitalar oferece intervenções direcionadas para a dependência química e saúde mental, com uma equipe multidisciplinar especializada e uma estrutura adequada para atender pacientes com diferentes quadros psiquiátricos. Desenvolvemos uma abordagem humanizada e individualizada, buscando compreender cada paciente em suas particularidades, sem julgamentos ou preconceitos.

Conclusão
Este texto esclarece os riscos associados ao tratamento com ibogaína, destacando que, legalmente, não há comprovação de seus efeitos nem regulamentação para seu uso. Além disso, seu uso pode causar efeitos prejudiciais ao paciente. Embora esse tratamento possa se tornar uma opção confiável no futuro, atualmente não é sensato considerá-lo em detrimento de opções mais seguras e comprovadas.
A ibogaína ainda é cercada por mitos e informações incompletas. Com o tempo, é provável que tenhamos estudos suficientes para determinar sua utilidade e em quais condições ela pode ser eficaz. No entanto, no momento, não há certeza sobre seu uso, e confiar apenas em relatos pessoais, quando a ciência e diversos órgãos públicos indicam o contrário, é, no mínimo, arriscado.
Portanto, o tratamento mais recomendado continua sendo o multidisciplinar, que aborda as diversas áreas afetadas pela dependência, em vez de apostar em um único modelo de tratamento.












