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Dependência química: Amor patológico
Publicado em: 16 de abril de 2020

Atualizado em: 28 de setembro de 2023

Dependência química: Amor patológico

A dependência química consiste na adicção e compulsão ao álcool e/ou outras drogas. É uma doença progressiva e, se não for tratada, mortal. A Adicção/Compulsão trata-se de uso habitual de substâncias alteradoras do humor como álcool e outras drogas, ou de comportamentos compulsivos como jogo, abuso de comida entre outros. 

Caracterizado pela tolerância a substância ou comportamento, ou seja, o individuo vive uma crescente busca por aumentar a quantidade da substância o a repetição do comportamento doentio, para obter o mesmo efeito. Ou ponto é e pela perda de controle o uso continuado apesar das suas consequências.

Neste texto pretendemos trazer uma visão geral e ampla da dependência química, trazendo conceitos e termos para seu melhor entendimento. Para isso, precisamos explicar expressões como o “Acting out” utilizada no original em inglês é descrita no dicionário como “a representação de um papel, normalmente na vida real, com um determinado objetivo ou propósito”; também pode ser traduzida como: “atuar nos sentimentos”.

No passado, o termo “dependência química” teve um significado muito restrito, associado apenas ao álcool e outras drogas. Milhões de dependentes nunca fizeram uso de químicos alteradores de humor nos seus rituais para ficarem “pedrados”, porém são dependentes a comida, ao jogo, ao sexo, dependentes ao furto, ao trabalho e as compras, e muitos outros, que levam uma vida de isolamento emocional, vergonha e desespero causados pelo estigma da sua adicção e compulsão.

A dependência química como processo

Há anos a dependência química é descrita como uma fraqueza moral, uma falta de força de vontade, uma incapacidade de enfrentar o mundo, uma doença física e uma doença espiritual.

Seres humanos têm desejos de serem felizes e de ter paz de espírito. Encontramos, vivenciamos e desaparecemos, e voltamos a aparecer em algumas ocasiões. Quando a felicidade nos abandona, há uma sensação de tristeza e até mesmo de luto. É o ciclo natural da vida e não o controlamos. Podemos aceitar e aprender ou lutar contra e tentar ser feliz o tempo inteiro.

A dependência química é uma tentativa de controlar ciclos incontroláveis. Quando os dependentes escolhem um objeto ou um acontecimento especial para produzirem a alteração do humor, do ponto de vista emocional acreditam que podem controlar esses ciclos. E, no início, realmente podem. A dependência química é, no seu sentido mais básico, uma tentativa de controlar e satisfazer esse desejo.

A dependência química é um processo progressivo, e precisa ser encarada como uma doença. Pode-se estabelecer uma comparação pertinente entre a dependência química e o câncer.

• No câncer há a multiplicação descontrolada de células;

• Na dependência química há a procura descontrolada e ilusão da plenitude, felicidade e paz através de uma relação com um objeto ou um acontecimento;

OBS: A frase ”um objeto ou um acontecimento” refere a todo o adicto que se envolve numa relação com um objeto ou um acontecimento a fim de conseguir a alteração de humor desejada;

• O alcoólico sente uma mudança; na sua disposição;

• A pessoa que tem uma dependência pela comida sofre uma alteração do humor quando come demais;

• O dependente a jogo muda de humor quando aposta;

• O dependente a furto experimenta uma mudança de humor quando rouba;

• O dependente sexual muda de humor ao folhear livros pornográficos numa livraria;

• A pessoa que tem uma dependência pelas compras sente uma alteração na sua disposição quando resolve comprar tudo que quer;

• O dependente ao trabalho sente que o seu humor muda ao ficar no emprego para realizar ainda mais uma tarefa, mesmo quando a sua presença seja necessária em casa.

Embora os vários objetos e acontecimentos descritos sejam diferentes em muitos aspectos; eles têm em comum o fato de produzirem nos dependentes que os escolhem as alterações de humor que desejam.

Se esta passando por algo parecido ou precisa ajudar alguém, fale com nossa equipe.

A doença da dependência

O tratamento da dependência química começou em 1935 com os princípios dos AA, que se dedicaram a dependência do alcoolismo, mas foi aos poucos transferido, a fim de ajudar pessoas com outras formas de compulsão. No entanto, não foi um grupo de profissionais que começou o tratamento da dependência química, mas sim um grupo de pessoas que sofriam da dependência química.

À medida que se aprendia cada vez mais sobre a natureza da dependência química, descobriu-se que os seus princípios a respeito da recuperação também eram uteis para ajudar pessoas com outras formas de dependências e compulsões.

À medida que os conhecimentos eram partilhados, pessoas com outras formas de dependências começaram a usar os seus princípios para recuperação. Foi assim que começaram os Jogadores Anônimos, ao Sexo Anônimos, ao Furto Anônimos, os Compradores Anônimos e outros grupos de ajuda dos Doze Passos.

E por que certos princípios de recuperação se revelam tão eficazes para todos estes grupos aparentemente tão diferentes? O motivo aparente é porque tratamos da mesma doença: a dependência. Começamos a constatar que existem muitas formas diferentes de adicções; embora sejam diferentes, tem mais semelhanças do que diferenças.

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Atuar nos sentimentos

Chamamos atuar nos sentimentos o fato de um dependente se envolver em comportamentos compulsivos ou em obsessões mentais.

Exemplos:

• Dependentes ao sexo que atravessam a cidade para encontrar prostitutas;

• Dependentes ao jogo estudando o impresso de apostas de uma corrida;

• Dependentes a comida que planejam ir comprar comidas em lojas diferentes para esconder a vergonha de seu abuso;

• Dependentes as compras fazendo uma compra de última hora.

Para estes dependentes, “atuar nos sentimentos” é uma forma de criar sentimentos que causam uma modificação emocional e mental. É esta mudança que o dependente deseja. Ele aprende a criar a sensação de estar descontraído, excitado ou controlado. Pode também criar sentimentos de medo, vergonha, aversão e ódio por si mesmo.  Ele tem a ilusão de estar no controle através da atuação nos sentimentos. A dependência química torna-se, portanto, uma tentativa de encontrar um sentido emocional para a vida.

Os dependentes acreditam que estão em busca da realização do ponto de vista emocional. A “pedrada” criada pelo atuar compulsivo é muitas vezes descrita pelo dependente como sendo uma ocasião em que se sentem vivos e inteiros.

Isto é especialmente verdade nas fases iniciais do processo da dependência química. O atuar nos sentimentos compulsivo é uma forma de escapar as pressões e tensões da vida cotidiana e até mesmo da vergonha e sofrimento criados pelo processo de uso de drogas e/ou outros comportamentos compulsivos.

Conforto através da fuga

A dependência química e a mudança de humor criado pelo uso constituem um processo muito sedutor. O dependente químico é seduzido emocionalmente pela convicção de que é possível uma pessoa encontrar conforto espiritual nos objetos ou nos acontecimentos. O ser humano normal pode obter um alívio temporário através de objetos e acontecimentos, mas não pode ter neles um verdadeiro apoio.

Todos nós temos de lidar com problemas, sofrimentos, frustrações e recordações que preferiríamos não ter de enfrentar. Em algumas ocasiões podemos usar objetos ou acontecimentos para evitar encarar certas coisas. A diferença entre a fuga de um ser humano normal e a dependência química é, que a dependência química é um estilo de vida em que a pessoa perde o controle e fica encarcerada numa forma de evasão emocional da vida.

Os dependentes químicos adiam constantemente os problemas da vida como forma de se confortarem espiritualmente. Todos nós temos impotência esta capacidade de formar relações compulsivas com certo número de objetos e acontecimentos diferentes, especialmente durante épocas de tensão em que uma promessa de ajuda e conforto será bem-vinda.

Os dependentes químicos tentam confortar-se evitando a realidade e a responsabilidade, razão pela qual a dependência química é uma forma ineficaz de encontrarem apoio. A mudança de humor criada pelo atuar nos sentimentos, cria apenas a ilusão de estarem obtendo esse apoio.

• O dependente a comida lança-se numa grande comilança depois de uma discussão para encontrar a ilusão da paz. Durante um momento, sente-se cheio em vez de vazio, criando uma sensação intensa de conforto.

• O jogador mergulha na ação e sente-se excitado, confiante e seguro de si. Desta vez, sabe que a sorte está do seu lado.

• Lentamente; os dependentes químicos começam a depender do processo da dependência química para se sentirem confortados e para definirem quem são. As suas vidas transformam-se na procura da sua droga de preferência.

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Lógica emocional

A dependência química começa como uma ilusão emocional. Esta ilusão entranha-se no dependente químico antes que as pessoas ao seu redor e até mesmo ele próprio se dê conta que se formou uma relação doentia, compulsiva e obsessiva. O dependente químico começa a construir um sistema de defesa a fim de proteger o seu sistema doentio de crenças dos ataques dos outros, mas nesse momento a dependência química já está a um nível emocional.

A um nível mental, intelectual, o dependente químico sabe que a droga não pode oferecer satisfação emocional. Os alcoólicos conhecem o velho ditado de que “não se pode fugir para dentro de uma garrafa”. Os dependentes ao trabalho sabem que a vida não e só trabalho. Os compradores compulsivos compreendem que o dinheiro não traz a felicidade. A doença da dependência e compulsão começa a se enraizar.

O sofrimento pelo qual a pessoa passa se dá através de um nível emocional. A intimidade, positiva ou negativa, é uma experiência emocional. Este sentimento de intimidade é experimentado, mas não é considerado logico. A dependência química é uma relação emocional com um objeto ou acontecimento, e os dependentes tentam corresponder às suas necessidades de intimidade através dessa relação. Quando é observada desta forma, a lógica da dependência química começa a tornar-se clara.

• Quando os dependentes a comida, sentem-se tristes, comem para se sentirem melhor;

• Quando os alcoólicos começam a sentir que estão perdendo o controle por causa da raiva, tomam uns copos para voltarem a controlar-se.

A dependência química segue realmente uma progressão lógica, mas esta progressão está totalmente baseada naquilo a que eu chamo lógica emocional, e não numa lógica racional. A pessoa que tenta compreender a dependência química usando uma lógica racional ficara frustrada e será manipulada pelo dependente químico. Podemos sintetizar a lógica emocional na frase, “Sei o que quero e quero-o imediatamente”. As necessidades emocionais são sentidas, muitas vezes, de forma urgente e compulsiva. A lógica emocional funciona para satisfazer esta urgência, mesmo que não seja no melhor para a pessoa.

Exemplo:

• O jogador sabe que já jogou tudo o que tinha para jogar nessa semana. Tem um dia complicado no trabalho. Sente-se inquieto e, por isso, olha para o boletim das corridas só para sentir-se bem-disposto, continua a dizer que não joga mais nessa semana. Ao rever o boletim de apostas, a sua lógica emocional começa a dizer-lhe que descobriu a aposta certa.  “Como é que não vi isto há mais tempo?”. “Era uma loucura perder esta oportunidade! Então fica irritado consigo, uma metade de si acredita na “descoberta”, enquanto a outra lhe lembra a promessa de não jogar. Dentro, cresce a pressão emocional.

A dependência representa satisfazer as necessidades emocionais e aliviar as pressões emocionais, ele terá que se submeter ao seu impulso, especialmente depois de se ter convencido que seria estúpido não aproveitar aquela oportunidade.

A lógica emocional provoca uma pessoa contra si mesma, podendo ser muito astuta. No livro “Alcoólicos Anônimos”, há uma frase que diz: “Lembre-se que estamos a lidar com o álcool – astucioso, desconcertante, poderoso.” Penso que esta é uma das formas mais verdadeiras de descrever a lógica emocional que se encontra em todas as adicções: astuciosa, desconcertante, poderosa.

Conclusão

A dependência química é mais do que uma relação de conveniência. Geralmente, as relações das pessoas com os objetos ou os acontecimentos são “relações de conveniência”. Isto quer dizer que manipulam objetos para sua própria conveniência. Estas relações com objetos destinam-se a tornar a vida mais fácil e mais confortável. A maior parte das pessoas tem relações de conveniência com os mesmos objetos em relação aos quais os dependentes químicos se tornam dependentes. Normalmente, são relações onde não existem laços emocionais ou ilusão de intimidade.

Contudo, para os dependentes, o objeto ou acontecimento começa a tornar-se cada vez mais importante à medida que tentam dar satisfação às suas necessidades emocionais e de intimidade, transformando-se realmente na sua relação emocional primordial. Porque sentem uma alteração no seu estado de humor, começam a acreditar que as suas necessidades emocionais ficaram satisfeitas. Isto é uma ilusão.

Consideradas de forma realista, as relações com objetos são relações de conveniência. A partir do momento em que uma pessoa começa a procurar num objeto ou num acontecimento a sua estabilidade emocional, lança as bases de uma relação doentia e compulsiva com eles.

 “Dependência química é um amor patológico e uma relação de confiança com um objeto ou acontecimento.”

A dependência química é uma “relação patológica”. O que quer isto dizer? Ser patológico é desviar-se de uma condição saudável ou normal. Quando se diz de alguém que está doente, queremos significar com isso que essa pessoa se afastou daquilo que é considerado “normal”. Portanto, a palavra “patológico” quer dizer “anormal”. Por consequência, a dependência química é uma relação anormal com um objeto ou um acontecimento. Todos os objetos têm uma função normal e socialmente aceitável. A comida serve para alimentar; o jogo serve de divertimento e prazer; as drogas ajudam a dominar as doenças.

Isto são exemplos das funções normais e aceitáveis destes objetos ou acontecimentos. Quem quer que use estes objetos ou acontecimentos da forma que é aceita pela sociedade será encarado como tendo uma relação normal e saudável com eles. Numa dependência química, o dependente afasta-se da função normal e aceita pela sociedade em relação ao objeto e inicia com ele uma relação patológica ou anormal.

A comida, o jogo ou as drogas adquirem uma nova função: o dependente desenvolve uma relação com um objeto, esperando assim satisfazer as suas necessidades. Aqui reside a insanidade da dependência química, pois que as pessoas obtêm geralmente a satisfação das suas necessidades através de ligações íntimas com outras pessoas, consigo mesmas, com a sua comunidade, e com um poder espiritual maior do que elas. É através de uma combinação equilibrada destas relações que as pessoas conseguem uma satisfação emocional saudável.

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